“Chama-me Pelo Teu Nome (Call Me By Your Name)” de Luca Guadagnino
Há meia dúzia de semanas seria o mais forte candidato do Oscar de Melhor Filme, entre outros.
Mas, no entretanto, a temporada dos prémios entrou em modo frenético, os circuitos dos críticos foram substituídos pelas Academias, pelos Sindicatos e pelos jornalistas e o filme de Luca Guadagnino foi perdendo fulgor, a favor de outros candidatos mais apetrechados e predispostos.
Não restem dúvidas, este modesto filme independente é uma das relíquias deste ano mas tem dois fortes handicaps a condicionar a sua apreciação. Um dá pelo nome de Moonlight, o vencedor do Oscar de Melhor Filme no ano passado e que abordava uma temática bastante similar. Com um fator de comparação tão próximo, Call Me By Your Name acaba por perder o fator de novidade e de revolução (sexual) cinematográfica. O outro, mais subjetivo, está relacionado com o período mediático em que vivemos. Num altura em que o abuso de poder e a discriminação sexual estão na ordem do dia, o preconceito homossexual perdeu relevância – e ainda bem, sinal da evolução dos tempos – ao ponto de um filme sobre um miúdo que tem uma relação sexual com um cavalheiro mais velho seja algo perfeitamente natural.
Para lá dos sentimentos, do amor proibido e da paixão, o que Call Me By Your Name também demonstra (inadvertidamente?) é que os chavões e os preconceitos não podem ser utilizados indiscriminadamente. Dependendo do ponto de vista, da interpretação e do mediatismo da questão, todas as relações anormais, i.e. que não sejam heterossexuais, entre pessoas com idades semelhantes e sem qualquer relação de poder entre elas, podem ser julgadas, escrutinadas e abusivas.
Puritanismo. Feminismo. Homofobia. Racismo. A discriminação tem muitos nomes e vão de um extremo ao outro, sem inocentes de ambos os lados.
O que Luca conseguiu foi contar uma belíssima história de amor, entre dois seres humanos totalmente distintos mas que por algo acaso do cosmos, encontraram no outro algo seu. O Nome foi a metáfora encontrada mas a cumplicidade e intimidade demonstrada por Elio e Oliver é comum (ou pelo menos devia ser!) a todos os relacionamentos, independentemente do género, número ou forma. Será esse o maior elogio que se pode fazer a Armie Hammer e Timothée Chalamet.
Naturalmente que a câmara de Guadagnino e as faustosas paisagens do norte de Itália, ajudaram a criar a atmosfera precisa para que o romance evoluísse e se materializasse. Pessoalmente, mais do que o argumento adaptado – nomeação para James Ivory – cativou-me o trabalho do director de fotografia tailandês, Sayombhu Mukdeeprom, inexplicavelmente ausente nas nomeações aos Oscars. Cada imagem, vale bem mais do que mil palavras.
É pois nesta moldura renascentista que em meados dos anos oitenta, Elio (Chalamet) vê chegar o novo assistente do seu pai (Stuhlbarg). Apesar de ser ainda adolescente, o jovem multilingue, autodidata, pianista, compositor e “devorador” de livros não esconde a sua admiração pela cultura, pela arte e por Oliver (Hammer). A insegurança e a incerteza conduzirão a um tórrido e apaixonante Verão recheado de reviravoltas, descobertas e experiências.
Por entre tantos títulos, nomes e filmes de qualidade, o grande vencedor desta temporada dos prémios é, sem dúvida, Michael Stuhlbarg!
Quem? perguntará a larga maioria! O experiente ator californiano que interpreta de forma magistral o papel de Mr. Perlman, participou de forma ativa, altamente competente e decisiva em The Shape of Water (no papel do cientista Robert Hoffstetler), e em The Post (no papel de Abe Rosenthal, editor do New York Times) para além, naturalmente, deste Call Me By Your Name.
“Apenas” 3 dos 9 nomeados ao Oscar de Melhor Filme deste ano. Fantástico!
Um ator modesto mas de grande qualidade, com um currículo impressionante – com presenças em Arrival, A Serious Man, Hugo, Lincoln, Blue Jasmine, Steve Jobs, Miss Sloane, entre outros – e que é responsável pelo mais emocionante e revelador monólogo deste ano, quando, bem perto do final do filme, o seu Mr Pearlman tem uma sentida conversa com o filho. Bravo!
Pode parecer estranho mas por entre tantos momentos marcantes, aquele que fará realmente a diferença é essa conversa entre pai e filho. Por ventura, o único momento do filme em que as mil palavras (ou bem menos!) superaram ferozmente toda e qualquer imagem.
Foi absolutamente poderoso.