“As Estrelas Não Morrem em Liverpool (Film Stars Don’t Die in Liverpool)” de Paul McGuigan
Há filmes que ficam como que perdidos na nossa lista de espera, até conhecerem o preto e branco (ou laranja e azul) do nosso site.
Nem sempre a culpa é totalmente nossa. No caso deste Film Stars Don’t Die in Liverpool partilhamos as responsabilidades com o próprio filme, esquecido no turbilhão da temporada dos prémios, apesar do trio de nomeações aos BAFTA (Annette Bening, Jamie Bell e o argumentista Matt Greenhalgh).
A questão é que para lá dos prémios da academia britânica, o filme de Paul McGuigan pouco burburinho causou, e numa altura em que muitos dos pesos pesados estreiam nas nossas salas de cinema, não é fácil destacar-se da manada sem o auxílio das nomeações.
Inegavelmente Jamie Bell e, sobretudo, Annette Bening fizeram a sua parte. Aliás, será até discutível a opção de Hollywood em descartar Annette em favor de Streep mas, lá está, sem as nomeações, The Post corria o risco de ser esquecido… e isso nunca iria acontecer. A actriz de American Beauty e The Kids Are All Right tem aqui um dos melhores desempenhos da sua já longa carreira, com uma amplitude de emoções, sentimentos e comportamentos invejáveis. Ou como diriam os mais sábios “na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza”…
A relação entre Gloria Grahame (Bening) e Peter Turner (Bell) não podia ter começado de forma mais inocente, em Londres como vizinhos. Apesar da diferença de idades, Gloria é quase 30 anos mais velha do que Peter, o casal partilha o gosto pela representação, pelo cinema e um pelo outro. O mundo que os separa é outro. Gloria é uma reputada atriz norte-americana enquanto Peter ainda tem 2 empregos para compensar as desilusões artísticas.
O twist é que o enredo é baseado numa história verídica! Gloria Grahame foi uma atriz de grande sucesso do cinema a preto e branco, com especial apetite para os papéis de femme fatale. Imagem alimentada por uma vida amorosa bastante turbulenta e sui generis. Peter era de Liverpool.
Uma rápida e resumida leitura pela vida e obra de Gloria, facilmente dá a perceber que há ali material para uma (ou múltiplas) trilogias. Aliás, o filme não se incumbe de referir, mais do que uma vez, que a vida da talentosa atriz terá sido tudo menos monótona.
Não querendo recorrer ao típico chavão (mas fazendo-o), é uma daqueles filmes que se faria antigamente (há uns 20, 25 anos) para entrar na corrida dos Oscars. Uma história apaixonante, uma pitada de intriga, segredo e escândalo, uma dupla de atores de qualidade, secundários com carisma e segurança e aquela áurea de melodrama inglês.
Foi realmente apaixonante mas efémero, tal como o romance.
-
Pingback: “Judy” de Rupert Goold – Doces ou Salgadas?