“Mark Felt: O Homem que Derrubou a Casa Branca (Mark Felt: The Man Who Brought Down the White House)” de Peter Landesman
A história do segundo homem mais poderoso da história do FBI – logo a seguir ao seu fundador, J. Edgar Hoover – dava um filme…
Pode parecer estranha a afirmação, precisamente nesta crítica, mas é essencial para percebermos que o filme de Peter Landesman é sobre o homem e não, necessariamente, sobre os 2 anos que mediaram o “assalto” ao Watergate até à renuncia de Richard Nixon.
O enredo medeia estes dois acontecimentos, para sempre interligados, e destaca a cabal preponderância do nº 2 do FBI no desenlace conhecido mas, em última instância, o filme é sobre o Homem que Derrubou a Casa Branca e não sobre Como o fez.
Mark Felt que décadas mais tarde reconheceu ter sido o informador que vazou para a imprensa detalhes sobre o Caso Watergate – inicialmente conhecido apenas pela sua sugestiva alcunha de Deep Throat – era um homem implacável que conhecia bem os seus adversários e os meandros onde se movimentava mas, também, as suas fraquezas. E é isso que o realizador de Concussion e Parkland nos quer contar.
Felt (Liam Nesson) serviu o FBI de forma abnegada e fiel durante mais de 30 anos e quando se preparava para assumir a liderança da instituição – após a morte de Hoover – viu-se “ultrapassado” por uma nomeação política pelo, à altura, Presidente dos EUA. Semanas depois estala o incidente do Watergate e o resto é História.
Por entre as investigações, as fugas de informação e a politização da organização, Felt fez tudo o que estava ao seu poder para “escrever direito por linhas tortas”. E não foi fácil… nem bonito de se ver.
Tal como Felt o fez na maioria do tempo que esteve ligado à alta esfera do FBI o filme amaranha-se por entre os bastidores da investigação, da intriga política e pessoal de duas das instituições mais prestigiadas do Mundo (o FBI e a Casa Branca). E, como seria de esperar, para lá dos gabinetes e das portas fechadas o que se viu vê não é propriamente um conto de fadas.
Mas, como referido, Landesman não se fica pelo Watergate. O realizador pretende mostrar quem foi Mark Felt, o que o movia e o que o comovia. Neste capítulo, Liam Nesson, mesmo sem as habituais doses de pancadaria, parece mais assustador do que nunca. A informação pode ser uma arma perigosa mas quando utilizada com astúcias, determinação e conhecimento de causa, é (quase) mortífera.
O ator norte-irlandês parece algo contido – às vezes chega a dar a impressão que era “menino” para resolver aquilo tudo com duas murraças bem dadas – mas essa voracidade é transmitida numa linguagem corporal e vocal imponentes e inquestionáveis. Eram, seguramente, outros tempos. Mas havia, também, outro tipo de homens para lidar com certos problemas.
Quanto ao filme, fica o desempenho de Neeson, o documento histórico e, tal como tínhamos referido na crítica a The Post, aquela inquietante necessidade de rever (e relembrar) All the President’s Men (de Alan Pakula).
É que, na altura, ninguém sabia ao certo quem era, afinal, o Deep Throat…
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