“The Florida Projet” de Sean Baker
Na prática, 1h30 de palha para 10m de puro cinema.
Um retrato mordaz de uma realidade invariavelmente negligenciada (por todos nós!) mas com um desenlace profundamente inspirado(r).
É o verdadeiro cinema independente. Um ideia invulgar, recursos limitadíssimos, um estilo quase documental e um grupo de atores com pouca ou nenhuma experiência. Porém, entre eles, um senhor do cinema, de seu nome Willem Dafoe.
Um pouco à imagem do que aconteceu com Christopher Plummer e All the Money in the World, a nomeação de Dafoe é, em última análise, o reconhecimento de um filme distinto e que consegue, assim, furar barreiras e chegar a um público bem mais amplo.
Justiça seja feita, o habitual colaborador de Wes Anderson tem um desempenho contido mas contundente. Com o grande á-vontade que só a experiência lhe concebe, o veterano ator chega à terceira nomeação aos Oscars®, curiosamente todas como Ator Secundário (Platoon e Shadow of the Vampire, foram as outras). O seu Bobby é um sujeito vulgar que tem ações perfeitamente normais e até banais mas, à imagem do filme, com um propósito profundamente humano.
Acompanhamos Moonee (Brooklynn Prince) e as suas aventuras ao longo das férias de Verão, num manhoso motel nas imediações da do Parque temático da Disney em Orlando, Florida. Por entre mil e um esquemas, Moonee e a sua mãe (Bria Vinaite) levam uma vida sem regras ou preocupações (ou tento na língua) para desespero do gerente do estabelecimento (Dafoe) que lhes dá guarida nas situações de maior aperto.
Vamos de dia a dia percebendo quem é quem naquele microcosmos bastante particular mas, acreditamos nós, replicado por essa América fora. Por cada momento de maior tensão temos outro mais divertido ou pitoresco, deixando-nos literalmente sem saber o que esperar do próximo segundo.
Sean Baker que vem acumulando nomeações aos Independent Spirit Awards, chega finalmente ao grande público com um filme que faz a ponte entre o cinema de autor e o cinema comercial. É inegável que The Florida Project é bem mais uma obra particular do que um filme para as massas mas o retrato deixado mexe com qualquer um.
A relação causa-efeito entre as nomeações e a projeção do filme acaba por ser difícil de hierarquizar mas uma e outra acabam por ser legítimas e merecidas… mesmo que o resultado final deve ser sempre relativizado à escala do investimento e das expetativas iniciais.
Foi giro. E contundente!!