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“Na Praia de Chesil (On Chesil Beach)” de Dominic Cooke

Quem viu/leu Atonement – o filme de Joe Wright ou o romance de Ian McEwan – já vai meio preparado para o que o espera.

O autor inglês, discípulo convicto do Romantismo Clássico, em que a dor e o sofrimento são, na prática, a prova maior de qualquer amor, volta a ser o tema central da história, desta vez compactada num qualquer dia nebuloso algures no início da década de 60.

Se no referido fenómeno de bilheteiras, a II Guerra Mundial era o palco principal da ação, desta vez o autor avançou 2 décadas e disserta sobre os constrangimentos e ilusões de um jovem casal num ambiental (quase) rural britânico, numa época de mudanças mas, igualmente, de fortes contrastes e restrições.

Nos EUA a liberdade (sexual) desabrochava os baby boomers – a geração do pós-guerra – mas por Terras de Sua Majestade (especialmente em meios mais provincianos) certos assuntos permaneciam contidos, desconhecidos e alvo de profundas inseguranças.

Florence (Saoirse Ronan) e Edward (Billy Howle) conheceram-se, apaixonaram-se e casaram. Se até aqui nada pareceu mais natural, a noite (ou tarde) de núpcias servirá para testar de forma implacável o seu relacionamento. É nesse turning point que os encontramos e enquanto prosseguem as “cerimónias” mais pessoais, vamos conhecendo a sua história e dos seus.

Ao longo das quase 2 horas de filme que passam num instante mas a momentos são penosas de viver, percebemos sem qualquer sombra de dúvidas que se trata da adaptação de uma obra literária ao cinema. Há uma linguagem, um detalhe e uma palpável vibração que só pode ter origem na “caneta” de um grande autor como Ian McEwan.

On Chesil Beach pode, a momentos, não ser inteiramente agradável de se ver (ou sentir?) e tem um condicionante que nem mesmo no romance McEwan revela na plenitude – e que alteraria profundamente a interpretação da história – mas, detalhes à parte, que grande desempenho de Saoirse Ronan e de Billy Howle. Especialmente a moça que para além de um talento natural tem o condão de ter caído nas graças de meio mundo, demonstra um misto de fragilidade e pragmatismo que arrepiam qualquer alma… e depois ainda temos aquele desenlace final.

Referência última para o precioso trabalho de fotografia de Sean Bobbitt (regular colaborador de Steve McQueen) que capta com perspicácia e beleza ímpar o clima adequado para a história.

Estamos seguramente perante um dos fortes candidatos ao prémio de Melhor Filmes Britânico… e demais considerações que daí advêm.

  

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