“O Primeiro Homem na Lua (First Man)” de Damien Chazelle
Sem dúvida um belíssimo retrato dos feitos de um homem distinto, ao serviço de uma nação da humanidade.
Curiosamente ficou a estranha sensação de que mais do que o salto gigantesco, o que realmente interessou Damien Chazelle foi o pequeno passo de Neil Armstrong.
Peça central de todo o filme, o primeiro homem na lua é apresentado como pai, marido, engenheira e só depois como astronauta. E assim segue durante quase todo o filme. A humanidade fica a conhecer um pouco melhor o homem por detrás de uma das figuras do século XX.
Pode-se argumentar que perdeu-se uma bela oportunidade – ainda para mais com os recursos tecnológicos atualmente ao dispor da 7ª arte – para nos transportar abordo da Apolo XI (ou das várias outras missões que a antecederam) e para todos sentirmos “na pele” a experiência de pisar o solo lunar, pela primeira vez.
Não foi essa a visão de Chazelle. O talentosíssimo realizador de Whiplash e La La Land continua o seu impressionante percurso, construindo um belíssimo filme, recheado de emotividade, sonoridade e intimidade.
O argumento do vencedor de um Oscar (por Spotlight), Josh Singer, centra atenções nos homens e (respetivas) mulheres por detrás do Programa Espacial Norte-Americano. Ao contrário do que seria a “norma” em terras de Tio Sam, Armstrong (Gosling) estava longe de ser o típico herói norte-americano. Profissional inquestionável e dedicado pai de família, Neil carregava consigo a responsabilidade do feito a que a humanidade se dedicava… e a dor de uma prematura perda familiar.
Como será natural, Gosling é o principal “beneficiário” da opção narrativa de Damien. O misto de contenção e perseverança que marcará a carreira e vida de Neil Armstrong são impecavelmente repercutidos pelo ator canadiano. A única questão é que essa contenção acaba por ser levada demasiado à letra pelos envolvidos, retirando muita da espetacularidade e singularidade que se podia retirar de um feito único.
A memória de Neil ficará para sempre imortalizada pelo registo introspetivo de um homem à parte. Já o sei feito merecerá uma outra forma de ser devidamente consagrado pela 7ª arte. Uma série de TV com as missões Apollo como fio condutor? teríamos “assunto” para umas boas 15 temporadas!!
Não basta uma deliciosa banda sonora e o olhar vazio (de emoções) de Ryan Gosling. Há uma vertiginosa aventura espacial que percebe-se (ao de leve) faria arrepiar o espetador de qualquer sala de cinema (IMAX)!
Nota final para Claire Foy. A atriz inglesa, vencedora de um Golden Globe pelo seu desempenho em The Crown, consegue marcar pontos num papel altamente secundário mas poderoso e, acima de tudo, representativo do papel das esposas – e demais familiares – de um grupo de indivíduos literalmente com “a cabeça sempre na Lua”!!
Uma mão cheia de nomeações a caminho, seguramente.