“Todos Sabem (Todos lo Saben)” de Asghar Farhadi

Asghar Farhadi já ganhou dois Oscars (ou pelo menos, filmes seus já ganharam)! Ambos rodados no Irão, com orçamentos mínimos e que resultavam de um olhar particular e objetivo sobre a realidade de um país, distante para a maioria dos esperadores (de cinema!) de todo o mundo.
Mais do que “cinema independente”, A Separation e The Salesman (nos seus títulos internacionais, para facilitar a identificação) são a prova viva de que basta talento para fazer cinema de enorme qualidade. O dinheiro pode ajudar – e no caso deste Todos lo Saben, o trio de atores de renome, também – mas na sua verdadeira essência o cinema é uma arte simples e singela… e uma faísca é o suficiente para incendiar o público.
Neste caso, a faísca é uma povoação, um microcosmos espanhol, latino, humano. Penélope Cruz, Javier Bardem e o argentino Ricardo Darín são tão somente os três maiores representantes do cinema em espanhol da atualidade e aqui, em frente da câmara de Farhadi, encontraram a desculpa perfeita para contracenarem.
O filme, tal como referido, está longe de ser uma grande produção, mas é verdadeiramente uma preciosidade. O argumento de Farhadi vem recheado de subtilezas e, sobretudo, de uma trama imprevisível, eletrizante e bastante inteligente. Para além de dar armas ao seu trio de protagonistas (e não só!) para confirmar pergaminhos, a história concretiza, com ávida precisão, um retrato socio-cultural pitoresco mas muito próprio do povo latino.
Laura (Cruz) está de regresso à sua terra natal, para o casamento da sua irmã mais nova. Na companhia dos filhos – o seu marido argentino (Darín) ficou retido em Buenos Aires por motivos profissionais -, Laura vive intensamente o reencontro com a família espanhola e com amigos de longa data, como Paco (Bardem). Mas a festa dará lugar ao desespero e, rapidamente, a angustia e o medo começaram a toldar raciocínios e decisões. Até que os segredos começam a revelar-se.
Não há muito a acrescentar ao reconhecido talento de todos os envolvidos. O filme sabe-o bem e mantém-nos no desconfortável mas imensamente apreciável estado de alerta e incerteza, tão bem personificado por um conjunto bastante alargado de potenciais suspeitos, vítimas e cúmplices.
Sem extravagâncias, Farhadi volta a demonstrar que com talento e visão é possível fazer cinema de muita qualidade, sem grandes recursos ou efeitos visuais. O realizador iraniano parece, sim, captar como poucos, as particularidades de um cultura de proximidade e promiscuidade familiar tão caraterística do povo latino.
Para ver no cinema e deixar-se convencer por um filme que tem tanto de inteligente como autentico.

