“Se Esta Rua Falasse (If Beale Street Could Talk)” de Barry Jenkins
Ainda
Depois do sucesso (estratosférico) alcançado com o vencedor do Oscar de Melhor Filme, Barry Jenkins está de regresso às salas de cinema, desta vez com uma história de amor mais… convencional.
A questão social (nomeadamente racial) volta a assumir plano de destaque mas o foco primordial é, realmente, o Amor. Um amor incondicional, poderoso e arrebatador que move montanhas e apaixona todos os que o rodeiam.
Tish (KiKi Layne) e Fonny (Stephan James) conhecem-se desde crianças. A intimidade foi algo natural nas suas vidas, até se transformar paulatinamente em Amor. E quando decidem abraçar uma vida em comum, as privações acumulam-se na sua frente, fazem-nos questionar as suas opções e obrigam-nos a acreditar na força… do Amor.
Dois bons desempenhos dos jovens protagonistas, e um conjunto de atores secundários, liderados por Regina King, a complementar de forma subtil os contornos de uma história que poderia muito bem ser verídica. No Harlem, em meados dos anos 70, a segregação racial podia não ser explícita mas era cirurgica.
Claro que estamos a falar de um filme de Barry Jenkins. O enredo pode ser importante mas a forma assume total primazia. Demorados grandes planos, introspeção, incerteza e sentimentos. Os diálogos vão-se tornando cada vez mais curtos e raros com o evoluir da história, em favor da imagem, das faces, das emoções.
Este é, aliás, o maior handicap do filme. Um começo auspicioso, com um equilíbrio perfeito entre a inteligência da história e a beleza das imagens, vai-se deteriorando à medida que o enredo adensa-se e é colocado para segundo plano. Não é uma surpresa, evidentemente, mas o longo primeiro acto na casa de Sharon e Colman Rivers torna-se fugaz e, a dada altura, demasiado distante do resto do filme.
Queríamos gostar muito do filme. Aliás, durante bastante tempo gostámos muito do filme.
Mas a paixão vai-se perdendo, até a um desenlace amorfo e banal.
Gostámos.