“Downton Abbey” de Michael Engler
Tal como já havíamos referido anteriormente, foi com total desconhecimento de causa que assistimos à versão cinematográfica de uma das séries de maior sucesso da era pré-streaming.
Essa “ignorância” amplificou o efeito surpresa mas atenuou a compreensão do enredo e, sobretudo, de cada uma das personagens. O que se revelou… totalmente irrelevante.
Naturalmente desconheço o impacto e a qualidade da transposição para a 7ª arte do fenómeno Downton Abbey. Já do ponto de vista de quem se deparou pela primeira vez com os Crawley, tenho apenas elogios!
O primeiro, e mais vigoroso, vai para Maggie Smith. A veterana atriz britânica há algum tempo que vem acumulando desempenhos acutilantes, marcados pelo sarcasmo e espiritualidade das suas personagens, invariavelmente idosas rabugentas sem tento na língua. Mas a matriarca Violet Crawley é de outra estirpe, de outro nível. Para além da graciosidade da sua presença e o humor ríspido que lhe assenta que nem uma luva, há uma humanidade e inteligência adoráveis. É daqueles desempenhos que merece um Oscar. E não seria o primeiro. Poucos terão conhecimento mas Dame Maggie Smith conquistou o seu segundo Oscar há 40 anos. E o primeiro há 50! A ver vamos se volta ao palco.
O segundo para o argumento de Julian Fellowes. O criador da série assina o argumento do filme e fá-lo com igual critério e elegância. A história flui com uma mistura certeira de intriga, drama, romance e bom humor (britânico). E mesmo para quem não está familiarizado com a série tudo parece normal e coerente. Somos rapidamente levados para a casa onde os andares se confundem, pelo menos na medida do possível na Inglaterra de há 100 anos.
Sem heróis nem vilões, o filme entretém-nos com o dia-a-dia de uma família aristocrata, numa altura em que a monarquia britânica causava suspiros e revolta à sua passagem. Eram outros tempos e nós temos a oportunidade de levantar um pouco do véu sobre uma elite bastante peculiar.
Ganharam um fã, é o mínimo que posso dizer. Com ou sem sequelas (cinematográficas), Downton Abbey é um fenómeno que veio para ficar. A riqueza das suas histórias, das personagens e da produção envolvida são, de facto, ímpares.
Entre recuar no tempo e recuperar as 8 temporadas da série ou aguardar pela estreia nos cinemas da sequela a este filme, ainda prefiro a segunda opção. Mas se não houver fumo branco em breve, sou bem capaz de me aventurar por entre uma qualquer coleção de dvd’s.
É este o efeito Downton Abbey!