“O Apelo Selvagem (The Call of the Wild)” de Chris Sanders
Ficou a clara ideia que podia ser MUITO MELHOR, especialmente para os espetadores NÃO pertencentes à espécie canina.
Passo a explicar.
Apesar dos esforços em apresentar o filme como uma aventura para toda a família protagonizado pelo Harrison Ford, a obra de Chris Sanders pertence por completo a Buck, o corpulento São Bernardo cruzado com uma “Lassie” (em formato digital, mas plenamente verosímil), cujas aventuras em terras inóspitas do círculo polar Ártico, aquecem o coração de qualquer canino. Vá lá, e de todos os melhores amigos… dos cães!
A centenária história da autoria de Jack London pode ter diferentes intervenientes humanos – no caso do filme pelas mãos de Harrison Ford e Omar Sy – mas o seu protagonista é mesmo o cão. Esse rafeiro monstruoso, com ar de malandreco, criado nas terras quentes da Califórnia e abandonado à sua sorte nas terras geladas de Yukon e do Alasca.
Obrigado a adaptar-se para sobreviver, Buck passará pelas mais diversas privações e riscos, até encontrar o seu destino.
O filme é divertido e engraçado. Mistura momentos de alguma tensão com vários bem animados e bem humorados, sem nunca chegar a ser lamechas ou exagerado. É difícil não ficar embevecido pelo cachorro e, porque não, pelas maravilhas da tecnologia que conseguem transformar um monte de 1 e 0, num ser adorável.
Durante 1h30, vivemos as aventuras de Buck com reconhecido entusiasmo e agrado. Mesmo quando o filme quer ficar mais sério, aguardamos pacientemente pelo próximo capítulo, mas fica a clara sensação que Sanders não soube o que fazer com o desafiante desenlace da obra de Jack London.
E se o autor tinha uma visão do mundo algo contundente – lembramos que já se passaram mais de 100 anos, desde que The Call of the Wind foi originalmente escrito – o filme encontra um argumento ainda mais descabido para dar a liberdade a Buck.
Naturalmente que cada um pode ter a sua visão (do mundo), mas haveria certamente outras formas de enquadrar o apelo selvagem.
É que por muito reconfortante que seja o filme, a sensação ao sair da sala foi realmente decepcionante.
Buck não o merecia.