“Mulher-Maravilha 1984 (Wonder Woman 1984)” de Patty Jenkins
Antes de mais, o nosso profundo apreço pelas opções da Warner Bros Pictures durante a atual pandemia. Pode-se gostar mais ou menos de Tenet, deste WW1984 ou até mesmo de SuperIntelligence mas, a verdade, é que nenhuma companhia apostou tanto no Cinema neste últimos meses como a Warner.
Cinema que cativa, que faz sonhar. Cinema que cria expetativa, que desperta curiosidade e emoção. Independentemente do resultado final.
De volta a WW1984, o filme está longe de ser o que estávamos à espera. É certo que a parceria entre a Warner Bros. e DC Comics nunca escondeu a sua predileção pelo lado mais sombrio, doloroso e cru dos super-heróis em contraponto com a visão mais aventureira e divertida da Marvel. E este Wonder Woman 1984 segue essa tradição.
A mensagem do filme é bastante forte e contundente. Spoilers à parte, mesmo desenrolado precisamente no ano de 1984, o espírito desta sequela é deveras atual e periclitante.
Curiosamente, o filme começa da melhor forma. Durante uns bons 10 minutos, WW1984 consegue ser divertido, aventureiro, maroto e perspicaz. De volta a Themyscira, com uma Diana ainda juvenil, o céu é o limite e este pequeno brinde deixa antever que a Mulher-Maravilha não necessita obrigatoriamente de ser soturna para chegar ao seu público.
Mas este é apenas o prólogo. Chegamos a 1984 e ultrapassada a fase do encantamento, o filme segue uma trajetória bem mais sombria. Com emotividade à flor da pele e uma mensagem bem agressiva e divisiva, o parque de diversões é apenas uma memória distante, totalmente esmagada pela dolorosa realidade.
Diana (Gal Gadot) é uma mulher amargurada pela sua perda que vagueia entre nós tentando semear o bem e a justiça. Até que um artefacto misterioso cai nas mãos de uma insegura e introvertida Barbara Minerva (Kristen Wiig), sua colega de investigação no Museu Nacional de História Natural do Smithsonian Institute.
Essa “pedra” desencadeará uma espiral de paixão e destruição que colocará a humanidade em risco, especialmente depois do ambicioso Maxwell Lord (Pedro Pascal) desvendar o seu verdadeiro poder!
O filme tenta balancear a ação com o drama, levando ambos para outros patamares de realismo e autenticidade. Nada contra o desenrolar de ambos, ainda que para lá da mítica armadura dourada, pouco ou nada se acrescente ao arsenal da Wonder Woman.
O que realmente fica é a cumplicidade entre Gal e Kristen (mais mesmo do que a relação entre Diana e o seu Steve). As improváveis BFF’s demonstram uma química peculiar, especialmente tendo em consideração o evoluir da sua relação e das suas personagens (especialmente a transformação de Barbara em Cheetah). E nesse capítulo destaque evidente para Wiig. Convincente como Barbara, deslumbrante como Cheetah foi para nós a grande surpresa do filme e o melhor que este teve para nos oferecer. Falta apenas saber se a voltaremos a ver no DCEU.
Vivemos tempos únicos. Wonder Woman é um reflexo de magia, ilusão e esperança num mundo melhor. A sequela cumpre plenamente o desígnio da sua protagonista, mas para o fazer segue caminhos tortuosos e demasiado desconfortáveis para quem procura no Cinema um lugar para descobrir novos mundos e esquecer, por breves momentos, a época que atravessamos.
Continuaremos a sonhar.
E, mais do que nunca, a aguardar o regresso de WW ao Cinema!