“Um Lugar Silencioso 2 (A Quiet Place Part II)” de John Krasinski
Foi um dos primeiros grandes acontecimentos cinematográficos adiados pela pandemia – nós que o digamos que à custa disso perdemos uma antestreia IMAX – e é agora um dos primeiros grandes acontecimentos cinematográficos de 2021!
Não é que 2021 já não tenha visto filmes de qualidade, mesmo para lá da temporada dos Oscars, mas este Part II é realmente um acontecimento especial, pelo seu simbolismo e pelo seu conteúdo.
A história desta saga remonta a 2018. John Krasinski realiza e protagoniza ao lado da sua esposa, Emily Blunt – na altura das filmagens em avançado estado de gestação – um filme de suspense e terror. Ainda que na altura Krasinski fosse a nova sensação das séries de ação, graças ao seu Jack Ryan, a transferência do comediante para o cinema de terror, para mais acumulando as responsabilidades de realizador, era um patamar totalmente diferente.
Mas a verdade é que o A Quiet Place é um filme fantástico, levando a que a respetiva sequela fosse anunciado meros dias depois da sua estreia. As expetativas passaram de 8 para 80. O último ano foi um misto de incerteza e expetativa crescente. E o resultado não podia ter sido melhor!
Este Part II é tudo o que não esperávamos. E tudo o que, sem saber, desejávamos! Mais completo, mais aterrador e mais humano do que o seu antecessor, é um extravasar de emoção e esperança, a lembrar as poucas, mas ilustres sequelas, que superam o capítulo original.
Reencontramos os Abbott no imediato segundo após o términus do primeiro filme. Expostos, inseguros, assustados e sem garantias, a família decide abandonar o seu lar e refúgio de mais de um ano, em busca de ajuda e respostas. Para lá do caminho de areia, há um outro mundo. Novos perigos, cuidados redobrados mas o mesmo espírito de sobrevivência e interajuda. Até que um raio de esperança ecoa…
Assumindo inequivocamente que não sou especialmente um grande fã do cinema de terror – com exceção dos realmente bons! – A Quiet Place Part II ameaça derrubar alguns dogmas, especialmente quando já não se trata de um mero “acidente de percurso”.
Confesso que a ansiedade (e incerteza) chega a ser dolorosa. O terror visual e psicológico do primeiro filme consegue ser ampliado, mesmo depois de já conhecermos os “bichos” e de tudo o de trágico que marcou o 1º filme. É esse conhecimento que nos move e paralisa em simultâneo, apenas superado pela curiosidade em saber para onde a história nos leva, custe o que custar.
E o resultado final é deveras compensador. Inteligente, arrojado, humano e revelador. Nenhuma questão fica por esclarecer, ainda que novas se coloquem…
Alguém, muito especial, mede a qualidade da maioria dos filmes que vê, pelo número de lágrimas que lhe correm pelo rosto durante a sessão.
Bem, assumindo que não me recordo da última vez em que chorei numa sala de cinema – não de medo ou de tristeza, mas de esperança, de emoção, de alegria extasiante, de raiva contida – então A Quiet Place Part II só pode ser mesmo MUITO BOM! E, ainda assim, consegue fazer-nos querer (muito) mais!
Para já está garantido um 3º capítulo para daqui a 2 anos, da responsabilidade de Jeff Nichols (Take Shelter), a partir de uma ideia do próprio Krasinski. Mas será mais um spin-off do que propriamente o fechar da trilogia, isso está “prometido” para um futuro um pouco mais distante.