“O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias” de Cão Hamburger
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Adoro cinema Argentino. É engajado, politizado e ao mesmo tempo de um lirismo singular. Talvez por isso tenha gostado tanto de O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, do director Cão Hamburger que nos apresenta um drama sensível sobre a ditadura militar.
O personagem central é Mauro (o estreante Michel Joelsas), que está na pré-adolescência no início da década de 70. O Brasil vivia o milagre económico e a euforia da Copa de 70, mas também sofria o auge do regime militar. É nesse cenário turbulento da história brasileira que o garoto é deixado na casa do avô quando seus pais subitamente “saem de férias”. O título do filme é na verdade uma metáfora. O que acontece de facto é que seus pais (Simone Spoladore e Eduardo Moreira) são obrigados a viver na clandestinidade devido suas ideologias políticas.
Mas o inesperado acontece quando seu avô morre antes mesmo de Mauro chegar ao apartamento. Quem assume o posto informal de guardião é Shlomo (Germano Haiut), um homem que mora no apartamento ao lado. Os dois personagens criam então uma relação simbiótica, cujo resultado será uma melhor descoberta de quem é cada um, superando preconceitos e adversidades. Isso será fundamental na formação da personalidade do menino, que é filho de um judeu e uma católica. A trajectória de Mauro é melancólica, mas também cheia de irreverência, como a paixão platónica que os meninos nutrem pela bela Irene (Liliana Castro) ou a incessante busca por uma figurinha para completar o álbum da Copa.
O director não tem medo de fazer um filme emotivo, mas, ao mesmo tempo sóbrio, sem nunca ser piegas ou apelativo. A produção tem mérito por resgatar cenas de arquivo da Copa de 70 recriando com paixão o ambiente de vibração dos torcedores ao mesmo tempo que revela a crueldade de um regime autoritário.
O Ano em que meus Pais Saíram de Férias é um dos filmes mais sensíveis produzidos no cinema brasileiro nos últimos anos. Uma abordagem diferente ao tratar de um tema que nos custou tanto visto aos olhos inocentes de uma criança. Mas afinal é assim mesmo, hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamas!
by Christian Falkembach