“Sexo, Mentiras e Video/Sex, Lies, and Videotape” de Steven Soderbergh
Muitas vezes os filmes devem ser avaliados não pela sua qualidade intrínseca mas sim pela sua relação custo-benefício. Quando olhamos para um filme como este devemos ter sempre presente que o seu orçamento não atinge 1% do montante investido em alguns filmes, mesmo se tivermos em conta que estávamos em 1989. Mais, arrisco a dizer que, o orçamento é bem inferior ao de muitas obras nacionais que, nem por sombras, atingem a qualidade do filme de Steven Soderbergh.
Para os menos conhecedores Soderbergh é o realizador de obras como Erin Brockovich, Traffic, Ocean’s Eleven e as suas sequelas, The Good German, etc., etc.
Porém, há quase 20 anos atrás, o agora famosíssimo realizador, foi o vencedor da Palma de Ouro de Cannes com a sua obra de estreia, precisamente, Sex, Lies, and Videotape.
Com um orçamento diminuto, o realizador e argumentista norte-americano construiu uma narrativa hipnotizante, sensual mas ao mesmo tempo dúbia e agressiva (especialmente se tivermos em conta que mesmo em finais da década de 80 o sexo era uma temática dificil no cinema). Apenas com 4 actores, James Spader, Andie MacDonnal, Peter Galhager e Laura San Giacomo, e recorrendo a meia-dúzia de cenários, Soderbergh demonstrou que não eram necessários grandes orçamentos para apresentar filmes de qualidade, basta a imaginação e o engenho do argumento e da realização para estarmos perante uma obra de valor inquestionável.
Não bastasse o seu valor intrínseco, esta sua pequeníssima obra-prima, fica ainda na história como uma das grandes responsáveis pela revitalização do chamado cinema independente (reduzido orçamento -> qualidade superior) norte-americano. Quanto ao seu responsável, ele teve de esperar praticamente 10 anos até que lhe fosse reconhecido o valor devido, sobretudo após as obras mencionadas anteriormente.
Voltando ao filme, este acompanha bem de perto as disfuncionalidades de um casal tipicamente norte-americano, John e Ann (Galagher e MacDowell), ele um advogado de sucesso e ela uma dona de casa insatisfeita, e os efeitos na sua relação que terá a chegada de Graham (Spader), um antigo amigo de John. Ele juntamente com a irmã de Ann (Giacomo) irão por a nu todas as lacunas do seu relacionamento, sobretudo ao nível do seu comportamento sexual.
Durante vários anos associei este filme a Crash de David Cronenberg.
Parece que não estava assim tão enganado!
Para além de James Spader ser o protagonista de ambos e do “carimbo” de cinema independente que os 2 “apresentam”, junta-se a temática sexual (ainda que muito mais explícita na obra de Cronenberg) e aqueles pequenos detalhes só ao alcance de grandes realizadores.
Está longe de ser um filme para todos os gostos porém, é uma obra que marcou a sua época e que (re)abriu as portas ao cinema alternativo de qualidade.