“Touro Enraivecido (Raging Bull)” de Martin Scorsese
Apesar das dezenas de filmes que assisto todos os ano nas salas de cinema, a minha tenra idade obriga-me a vasculhar bem fundo para ver alguns dos Maiores Clássicos no cinema.
Com o passar dos anos fui tendo oportunidade de colmatar algumas falhas (imperdoáveis!) quer através da TV, quer recorrendo ao antigo VHS lá de casa. Porém, existem outros filmes para os quais ainda não tive essa sorte! Até há bem pouco tempo Raging Bull era um deles!
A obra ímpar de Martin Scorsese marcou a primeira das suas 6 nomeações sem qualquer prémio (malapata apenas resolvida o ano passado com The Departed: Entre Inimigos). Desde então, já lá vão 27 anos, muitos têm sido os adjectivos utilizados para classificar e louvar este filme.
Situado na década de 40 e totalmente filmado a preto e branco para criar uma atmosfera ainda mais condizente com aquele período, o filme é baseado na vida de Jake LaMotta, um dos grandes boxers de todos os tempos que, contudo, não soube tirar proveito das suas qualidades já que a sua postura dentro e fora do ringue era praticamente a mesma: agressividade, impiedade, casmurrice e (quase) loucura!
Para além das suas capacidades, LaMotta possuía uma personalidade instável e uma necessidade extrema para arranjar conflitos e discussões que só o prejudicavam. Para mais ainda tinha a ousadia de nunca esconder a verdade, o que acabou por o prejudicar quando esteve perante a Comissão de Boxe e não negou ter sido derrotado num combate viciado pela Máfia.
Terminada a sua carreira desportiva pouco restava a LaMotta e este foi-se arrastando entre actuações no seu próprio bar, aparições em filmes ou problemas com a polícia.
A dar corpo (literalmente!) ao boxeur temos Robert de Niro num papel que lhe valeu o seu primeiro e, até ao momento, único Oscar de Melhor Actor Principal.
De facto aqui parece não haver qualquer discussão! Em primeiro lugar a mudança física a que De Niro se sujeitou tanto para “adquirir” um corpo de boxeur, como para apresentar o corpo volumoso que LaMotta exibia depois de terminada a sua carreira. E depois temos toda a construção da personagem um quase psicopata-boxeur que tinha como obsessão única atingir o título de pesos médios e que carrega todo o filme às suas costas, fazendo-nos sentir ao mesmo tempo assustados e com pena da sua maneira de ser.
Nunca é fácil ver um filme pela primeira vez mais de 20 anos depois deste ter sido feito e, ainda para mais, com as expectativas nos píncaros perante tudo o que já tinha lido em relação a ele.
Ao início estranha-se um pouco o ritmo a que o filme se desenrola – a meu ver se há aspecto no cinema que evoluiu nas últimas décadas é o seu ritmo, a sua cadencia, a sua necessidade de mostrar cada vez mais e de melhor qualidade.
Porém, depois de nos habituarmos a esta diferente realidade compreendemos na perfeição tudo o que já foi dito e escrito sobre o filme.
Scorsese é de facto soberbo e De Niro é muito para além disso!
É de outro campeonato, onde apenas alguns (muito poucos) têm acesso!