“A Turma (Entre les Murs)” de Laurent Cantet
A Palma de Ouro em Cannes aumentava de sobremaneira a expectativa em redor deste filme.
Numa competição em que constavam filmes como The Argentine de Steven Soderbergh, The Changeling de Clint Eastwood ou Linha de Passe de Walter Salles, a honra e responsabilidade de sair de lá com o prémio/rótulo de Melhor Filme seria certamente, sinal de um filme superior.
Indo directo ao assunto, podemos dizer que as expectativas se confirmaram plenamente. Mesmo não se tratando de uma obra-prima da 7ª arte, o filme tem aquele brilho, aquela dimensão extra que o torna numa “experiência” sem precedentes!
E quando falamos em experiência referimos-nos essencialmente ao carácter quase que documental e de improviso que orienta todo o filme.
O protagonista é na verdade o mesmo professor de Francês que escreveu o livro!
Os restantes actores são todos amadores e estreantes no cinema, para além de lhes ter sido concedida liberdade para se apoderarem de cada personagem e de a moldarem de acordo com a sua personalidade.
O livro em que é baseado o filme é um retrato auto-biográfico do professor, relatando o seu dia-a-dia num liceu parisiense enquanto que os cenários são, também eles, todos reais, visto tratar-se realmente da sala de aula e restantes espaços de um liceu nos arredores de Paris.
Pelo que está quase tudo dito. A história é real, as personagens são reais, as situações são reais e sobretudo o “confronto” entre alunos e professor(es) é real.
Estamos “realmente” dentro de um liceu parisiense. Os professores e A Turma do 8º ano regressam de férias para encontrar um ambiente familiar. A diversidade étnica, racial, religiosa e cultural. A tentativa de afirmação dos adolescentes e de imposição dos jovens professores. O desenvolvimento de relações, o aprofundar de feridas, a descoberta de novas personalidades e de diferentes realidades.
No centro desta intensa “batalha” temos François (François Bégaudeau) o professor de Francês e Director d’A Turma. Em seu redor um grupo heterogéneo de jovens aspirantes a homens e mulheres, num reflexo preciso da relação estabelecida na instituição “ESCOLA” (comum, por exemplo ao nosso país) e consequentemente num reflexo actual da sociedade (neste caso, sobretudo, a francesa).
De câmara frequentemente ao ombro, o realizador Laurent Cantet, transporta-nos para o centro deste intenso “laboratório” onde se testam diferentes relações de forças entre os intervenientes.
Assumindo quase por completo a visão (auto-biográfica) do professor, o filme não se intimida em apoiar ambos os lados da barricada, deixando a nu as incoerências e fragilidades de todos.
E esse é o grande trunfo do filme. Ao ser honesto, sincero, mais uma vez, REAL, temos o privilégio de assistir a um relato emotivo e cativante de um cinema francês que volta a surpreender (pelo menos, por mim falo) depois de nos ter feito rir com Bienvenue Chez les Ch’tis.
Está de parabéns a 7ª arte no Hexágono!
NOTA: Entre les Murs é o candidato francês ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro