“Paris” de Cédric Klapisch
O grande problema do sucesso é o nível crescente da expectativa que daí advém. Depois de recentes êxitos do cinema francês, é com maior atenção e exigência que olhamos para os filmes vindos do Hexágono.
Rapidamente aquilo que seria uma experiência diferente (dado a estranheza perante estilos, cenários, actores, fotografia, preocupações ou ideias distintas) torna-se numa procura incessante por mais e melhor … e nem sempre tudo corre como planeado!
O realizador Cédric Klapisch é responsável por um dos bons filmes franceses/europeus dos últimos anos, A Residência Espanhola. O filme destacava-se pela forma como misturava diferentes hábitos, diferentes culturas, diferentes pessoas. E é precisamente neste aspecto que reside a principal lacuna de Paris.
Apenas a muito custo se consegue detectar a ligação (emocional e física) entre as personagens que se entrecruzam em Paris. Cada história parece-nos demasiado estanque, isolada como que se a cidade, fosse ela, o único elo de ligação!
Facilmente reconhecemos alguns dos locais mais emblemáticos da Cidade Luz, e conseguimos também perceber as suas gentes, as suas preocupações, as suas vidas mas, infelizmente, no final parece que ficamos na mão com algumas peças do puzzle que não encaixam!
Dito isto resta concluir que, como filme-mosaico, Paris acaba por não funcionar!
Funciona, sim, como alerta para uma cada vez mais premente procura de uma felicidade inalcançável , por um constante sentimento de insatisfação e insaciabilidade. Mostra-nos que muitas vezes tudo o que precisamos para ser felizes está ao alcance de uma mão mas que estamos demasiado preocupados em reclamar/criticar/lamentar a nossa infelicidade!
Pierre (Romain Duris) é um dançarino profissional a quem foi diagnosticada uma doença cardiovascular possivelmente fatal que o obriga a repousar e a remeter-se ao seu apartamento no centro de Paris. A muito custo acaba por colocar a sua irmã (Juliette Binoche) ao corrente que se prontifica a instalar-se no apartamento com os seus 3 filhos para o auxiliar.
Entretanto Roland (Fabrice Luchini) atravessa a típica crise de meia idade. Entre o sentimento de nada ter alcançado, o medo em se tornar num académico tedioso e a recente atracção por uma aluna (Mélanie Laurent), ele terá que lidar com a morte do seu pai e a comparação com o seu bem-sucedido irmão (François Cluzet).
Outras histórias se interligam, outras faces constroem uma das cidades mais belas do Mundo (claro que eu sou suspeito, por estar há muito encantado por Paris)!
Se calhar é isso mesmo, o filme acaba por não fazer jus à Paris que eu conhece, à cidade que faz parte do meu imaginário, que me seduz.
Ficamos com a imagem que os parisienses têm de si mesmos. Demasiado fechada, demasiado distante, demasiado cinzenta, demasiado banal… tal como o próprio filme!
… ainda prefiro a Paris de Moulin Rouge.