“Revolutionary Road” de Sam Mendes
Habituados a assistir repetidamente ao American Dream na grande tela, é, no mínimo, com algum desconforto que nos deparamos com esta espécie de Pesadelo Americano, ainda por cima pelo mesmo autor do introspectivo e fabuloso Beleza Americana/American Beauty!
A início não é fácil identificarmo-nos (falo por mim, pelo menos) com as personagens. Apesar de estar quase com a idade destas, faltam-me os filhos, o casamento, os subúrbios de uma grande cidade norte-americana e, porque não, os anos 50, para compreender realmente o que sente e, sobretudo, porque o sentem!
April (Kate Winslet) e Frank Wheeler (Leo DiCaprio) parecem destinados a ter uma vida brilhante. Plenos de ideias e de projectos eles encetam uma vida a 2.
Porém, rapidamente avançamos no tempo.
Agora a viver nos subúrbios de Connecticut, pais de 2 filhos, April e Frank fazem um “exame de consciência” de forma a perceberem naquilo que a suas vidas se tornaram.
Os sonhos que permanecem, as dúvidas que regressam, a liberdade que anseiam, tudo isto será questionado, tendo por catalisador John (Michael Shannon), um improvável, sincero mas desequilibrado estranho que irrompe pelas suas vidas.
Norma dos seus filme, Sam Mendes filma com uma delicadeza e acutilância invejáveis, deixando completamente a nu a fragilidade e a incoerência das suas personagens, revelando o melhor dos seus actores. Graças a isso Winslet conquistou o seu 1º Golden Globe (apesar de se ver arredada dos Oscars em detrimento do seu desempenho em The Reader – para breve!) enquanto que Michael Shannon alcança um reconhecimento inesperado (conquistando uma merecida nomeação ao Oscar de Actor Secundário).
Apontado como um dos candidatos aos Oscars (ver antevisão) o filme acabou por juntar à nomeação de Shannon apenas uma indigitação pelo Guarda-Roupa e outra pela Direcção Artística.
Baseado no conceituadíssimo romance de Richard Yates, o filme rapidamente nos enquadra para estas origens. Longe, muito longe do cinema espectáculo, o filme explora sentimentos, relacionamentos e opções de vida, levando-nos a pensar e a escrutinar se estamos, nós, a escolher o caminho certo!
Nunca um filme que nos “obriga” a este tipo de reflexão será um filme menor!
Claro que aquele final pode deixar alguns apertos no estômago mas que isso não condicione a opinião perante uma obra sincera, precisa e reveladora!
Talvez não seja o regresso (da dupla Kate e Leo) esperado pelos mais românticos mas também nunca niguém disse que a vida é um mar de rosas!