“O Tigre e o Dragão (Crouching Tiger, Hidden Dragon)” de Ang Lee
Há dias ao antever a próxima estreia do mais famoso realizador de Taiwan, Ang Lee, confrontei-me com a inquestionável qualidade e diversidade da sua obra.
Neste capítulo, ainda que Brokeback Mountain possa ser o filme que mais prémios e prestígio lhe gracejou (quem sabe em breve, a merecida homenagem neste blog), a verdade é que será 卧虎藏龙 (Wo hu cang long) a obra que o acompanhará na imortalidade.
Mais do que um filme, Crouching Tiger, Hidden Dragon quebrou barreiras, estabeleceu recordes e deu a conhecer a todo o Mundo o cinema sensual, poético e artístico que se fazia e faz, no outro lado do planeta.
Pensado logo à partida como um postal de visita para um cinema “desconhecido” o filme conquistou crítica e público, convencendo até mesmo os mais cépticos e puristas.
Para além de ser ter tornado no filme “estrangeiro” mais visto de todos os tempos nos EUA e de ter conquistado as bilheteiras um pouco por todo o Mundo, o filme, falado totalmente em Mandarim, encantou pela forma sublime e sincera com que apresentava algumas das tradições mais antigas do cinema asiático.
Neste aspecto, salta de imediato à vista, a Coreografia, a Banda-Sonora, a Direcção Artística (cenários) e a Fotografia (os 3 últimos premiadas com o respectivo e merecidíssimo Oscar) numa transposição primorosa de tempos e locais inimagináveis para a maioria dos ocidentais.
Mas se a forma, per si, já era um poema visual, o conteúdo não lhe ficava de todo atrás. Tendo por base a obra centenária de Wang Dulu, o filme acompanha a história de 4 personagens ligadas por um destino comum que vai sendo aos poucos revelado.
Ciente das suas limitações, o veterano Mestre Li Mu Bai (Chow Yun-Fat) decide entregar a sua famosa espada a um amigo de longa data. No entanto, quando está preste a fazê-lo esta é-lhe roubada por um misterioso guerreiro. Na busca por este poderoso artefacto ele será auxiliado pela sua velha amiga Shu Lien (Michelle Yeoh) e pela presença da enigmática Jen Yu (Zhang Ziyi), a qual se tornará sua discípula.
Ao mesmo tempo Jen Yu terá que lidar com os seus confusos sentimentos perante o aventureiro e perigoso Luo Xiao Hu (Chang Chen).
Num mundo onde a história parece repetir-se a cada passo, caberá a cada um tomar as decisões mais correctas…
Para além do efeito de abertura e descoberta que o filme teve em todo o cinema asiático, ele favoreceu ainda o aparecimento, à escala mundial, de uma nova geração de actores asiáticos, encabeçados pelos 2 jovens protagonistas do filme, Zhang Ziyi e Chang Chen. Quanto aos mais experientes Michelle Yeoh e Chow Yun-Fat, o seu papel (à imagem do que sucede no filme) é muito mais o de facilitadores desta nova interligação e de transmissores de um testemunho que favorecerá a todos.
Quanto a Ang Lee a História encarregou-se de contar os seus feitos…
Talvez para nós portugueses (habituados a ver os filmes legendados) o impacto de um filme como este não possa ser observado na sua plenitude. Tudo bem que “descobrimos” um mundo e um cinema totalmente diferente e que nos abre o espírito para todo um novo conceito artístico. No entanto, em países (como os EUA ou UK) onde as legendas são quase um sacrilégio é, de facto, um feito imenso o sucesso comercial que o filme alcançou!
Talvez o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro tenha sabido a pouco, ainda assim não podemos esquecer que nesse mesmo ano tivemos Gladiador, Traffic ou Erin Brockovich.
Naquela altura, ninguém falava em crise…