“Capitalismo: Uma História de Amor (Capitalism: A Love Story)” de Michael Moore
Numa semana que viu poucas estreias (apenas 2) em virtude da esperada avalanche Twilight, apenas a ECOFILMES teve coragem de lançar um filme às feras.
Demarcando-se totalmente na forma, público-alvo e objectivos do propalado regresso dos vampiros, a distribuidora apostou no documentário do famoso pucha-saco norte-americano. Pucha-saco no bom sentido, porque muito embora a forma não seja a mais correcta, a verdade é que Michael Moore coloca sempre o dedo directamente na ferida, demonstrando a nós todos (e sobretudo aos norte-americanos) que a realidade é bem mais complexa e perversa do que nos seria permitido imaginar!
Depois do livre acesso às armas (Bowling for Columbine), da administração Bush e o 11 de Setembro (Fahrenheit 9/11) e do sistema nacional de saúde (Sicko), o realizador do Michigan aponta baterias ao… CAPITALISMO e à recente crise financeira!
Nesta altura será imprescindível esclarecer os mais cépticos que a reprimenda não tem como destinatário a visão europeísta (e moderadamente socialista) do capitalismo. Ela destina-se (quase que em exclusivo) à idealização norte-americana deste sistema económico e a sua vertente bem mais radical e “selvagem”!
Partindo dos casos reais de algumas (ou muitas) famílias que perderam tudo (casas incluído) em virtude do descalabro financeiro que abalou os bancos e as principais praças financeiras do mundo ocidental, Moore disseca as diferentes peças do gigantesco dominó criado, “alertando” para os comportamentos duvidosos de entidades tão díspares e tão relacionadas (como ele acabará por o demonstrar) como a bolsas de valores, as principais empresas financeiras e o próprio Estado norte-americano!
Pelo meio ele irá colocar a nu algumas das aberrantes contradições da sociedade e economia norte-americana, comparando-as com as orientações seguidas em outros países e, sobretudo, com o senso comum (um pouco à imagem do que fez no seu anterior filme).
Fora o sensacionalismo mais desgarrado (a lembrar programas como o lendário Jerry Springer), em que os sentimentos das pessoas são escancarados para a câmara sem aparente necessidade e sem a devida contextualização, será difícil refutar que muitos dos aspectos levantados e politizados por Moore tratam-se inequivocamente de questões reais e incompreensíveis nos dias de hoje.
No entanto, o lucro é (e sempre será) o dinamizador de uma economia demasiado enrolada com os lobbies, os interesses privados e os apoios às campanhas eleitorais!
Nada como 2 boas horas de um documentário do Michael Moore para nos sentirmos bem com nós próprios.
É que se nos EUA (pátria da democracia, da moral e dos bons costumes) há malta como esta, com esquemas mirabolantes, negociatas escandalosas e desfalques monumentais, afinal isto aqui, à beira-mar plantados, é tudo muito… CALMO!