“Invictus” de Clint Eastwood
A cada filme que passa, cada nova obra de Clint Eatswood tem vindo a tornar-se num acontecimento cinematográfico de maior… e maior relevância!
Desde 2003 (7 anos apenas!), o “Dirty Harry” contemplou-nos, nada mais nada menos, com Mystic River, Million Dollar Baby, Flags of Our Fathers, Letters from Iwo Jima, Changeling e Gran Torino.
Olhando para trás parece incrível até que ponto chegou o brilhantismo de um dos mais amados e mais profícuos autores de Hollywood.
Para 2010 reservou-nos este Invictus, onde relata um dos grandes episódios da História recente de um país que praticamente ressuscitou das cinzas com o fim do Apartheid.
Mas ao invés de se cingir aos bem conhecidos acontecimentos socio-económicos ou políticos que marcaram o início da presidência do imortal Nelson Mandela, a história de Eastwood centra-se na relação de Madiba com os Springboks (alcunha da selecção nacional de râguebi da África do Sul) e, em especial, com o seu capitão François Peinaar.
Claro que, como é norma no cinema de Eastwood, mais do que os acontecimentos são as personagens e a grandeza das suas acções quem controla por completo o centro das atenções!
Infelizmente (para este caso), são as histórias o elemento que impulsiona a “máquina”… e esta acaba por ser demasiado previsível/conhecida.
Sem a força de um enredo retumbante, mesmo a energia que Clint transmite a cada sua obra acaba por se desvanecer. Resta-nos o magnífico desempenho dos seus protagonistas… e o que dizer de Morgan Freeman?
Escolha pessoal do próprio Mandela, o veteraníssimo actor norte-americano consegue transmitir todo o carisma e empatia que é reconhecida ao antigo Nobel da Paz. Ainda para mais, concentrando-se numa época tão sensível e tão escrutinada, no que diz respeito ao comportamento do líder africano, é realmente magistral a forma como uma personalidade tão amada e influente é recriada!
Quanto a Matt Damon, para além da envergadura que teve de adquirir afim de se ajustar ao físico do emblemático capitão da selecção de râguebi, este limitou-se a seguir as pisadas e a aura criada pelo seu colega de profissão, entregando-se de corpo e alma a um projecto que logo à partida prometia tornar-se numa referência do cinema (pelo menos no que diz respeito a filmes “desportivos”).
Encontramos um recém eleito Nelson Mandela (Freeman) a braços com a minusiosa missão de unir um país, desvastado por décadas de ódio entre raças.
De feridas abertas e com um vasto plano económico-social para implementar, Madiba (como era tratado pelos seus mais próximos) encontrou nos Springboks e na figura do seu capitão François Peinaar (Damon), o elo perfeito para gerir as aspirações e emoções de 43 milhões de Sul Africanos.
Com o aproximar da Taça do Mundo de 1995, na qual a África do Sul era precisamente o país anfitrião, Mandela tinha apenas um pedido a formular a Peinaar… vencer o campeonato!
Mesmo que isso implica-se contrariar todas as previsões e apostas dos mais entendidos.
Parece injusto afirmá-lo mas ao olhar (ainda que apenas) para o trabalho recente do grande mestre da realização, será obrigatório reconhecer que se trata de um filme menor.
Compreendam-me, a fasquia está colocada a um nível inacessível para o comum dos mortais, e as expectativas são a cada ano maiores e mais exigentes.
Invictus é um filme bastante interessante que nos prende quase até ao último minuto mas que peca por a História não ser tão rica como estamos acostumados nas histórias de Eastwood.
A emoção está toda lá mas a razão vai-se desvanecendo dada a proximidade e simplicidade dos factos.
Clint chegou a ponto na sua carreira em que lhe é (praticamente) impossível fazer um filme menor… o que não quer dizer que todos os seus trabalhos tenham de ser (forçosamente) obras-primas!
És grande!
François Pienaar