“Shoot Me” de André Badalo
Em complemento com The Town, estreou nas salas de cinema nacionais mais uma curta-metragem made in Portugal que espelha com rigor os quesitos fundamentais do “nosso” cinema.
Intemporal, de forma em que cenas sucessivas seja possível observar um telefone do século XIX e uma máquina fotográfica digital.
Impessoal, na forma ausente com que as personagens se relacionam mesmo quando estamos perante um casal ou uma mãe e uma filha.
Inconsequente, já que a poesia do que já aconteceu e daquilo que poderia ter acontecido supera (largamente) aquilo que de facto acontece durante o filme.
É neste timbre pardacento (como canta o Rui Veloso) que se destaca a profundidade e o talento de Maria João Bastos, na composição de uma personagem ambígua e ausente, plena de dor e de incerteza face ao que o futuro lhe reserva e ao passado que não se quer extinguir.
Os demais (Ivo Canelas e Philippe Leroux) são meros figurantes, mais ou menos activos, que se limitam a dar enquadramento ao desempenho da protagonista.
Teresa (Bastos) prepara o seu casamento com o austero Francisco (Leroux), não sem alguma melancolia e alguma dor, ainda que a sua própria filha pareça não partilhar dessa incerteza.
Mas decididamente, algo de estranho se passa e o intempestivo Ruben (Canelas) não será, certamente, alheio a tudo isto…
Conto dos nossos dias? Introspecção sobre um certo estrato social… ausente da realidade? Divagação sobre a dor e necessidade? Eterno confronto entre a moral e a tentação?
Ou 15m de cinema português?
Insípido, rígido, sonhador,… distante.