“O Concerto (Le concert)” de Radu Mihaileanu
Durante largos anos o cinema francês não era mais (pelo menos para mim!) do que uma miragem de tempos antigos e de hábitos desusos.
Porém, com o dobrar do milénio (talvez desde Amélie Poulain), parece ter havido um redireccionamento da indústria cinematográfica gaulesa que passou a centrar-se bem mais no que o público pretendia (em detrimento da “arte”) e na exportação de um produto multi-cultural e multi-geracional.
Nos últimos tempos são muitos e variados os exemplos desse ressurgimento! Passando pela acção em Taken, pela comédia em Bienvenu Chez les Chetis ou pelo retrato social em Entre les Murs, o cinema francês mostrou que pode (e deve!) competir com o melhor da indústria norte.americana!
Desta vez, numa parceria russo-francesa, o filme mistura géneros e culturas, num retrato sentido e histórico das consequências da repressão e da revolta, perante um contexto sui generis e actual!
Andrei Simoniovich Filipov (Aleksey Guskov) é um mero empregado de limpeza que trabalha na sede da mais conceituada orquestra sinfónica de Moscovo, o Bolshoi. Porém, em tempos, Andrei foi um dos mais emblemáticos maestros da companhia, afastado devido às suas convicções políticas (contra-comunistas!).
O acaso dar-lhe-à a oportunidade de corrigir o passado mas para isso terá que recrutar e treinar… a sua própria orquestra.
Se chegar a Paris já não será fácil, o que vem depois é mesmo… inacreditável!
Num misto de comédia melodramática e sátira política, o filme de Radu Mihaileanu segue, por completo, a velha máxima do nosso imortal (Fernando) Pessoa, “Primeiro estranha-se, Depois entranha-se“!
É realmente arrepiante o final apoteótico que o filme nos prepara, depois de quase 2h horas de intenso devaneio e mordaz retrato social.
No entanto, por entre toda este dicotomia é facilmente perceptível uma coerência, um fim condutor que nos embala a cada nota e a cada pausa.
Sentimo-nos viajar (no tempo e no espaço) e só por isso já vale bem o investimento.
Pena que não consiga chegar a um outro público, para quem o cinema francês ainda não “dobrou o novo milénio”!