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“Complexo: Universo Paralelo” de Mário Patrocínio


É grande…. a máquina de marketing que acompanha o mais recente documentário português que chega agora às nossas salas de cinema!

Dois irmãos viveram durante 3 anos o dia-a-dia do maior (e mais perigoso) aglomerado de favelas do Rio de Janeiro“. Assim é lançado o filme/documentário Complexo: Universo Paralelo.

Vamos, então, por partes!
Dos 2 irmãos nem sinal durante todo o filme! Bem sei que por norma realizador e demais equipa técnica não têm por hábito aparecer em frente das câmaras mas se o filme é sobre a sua experiência… não seria importante que o fizessem? Quem nos garante (a nós espectadores) que eles estiveram, de facto, lá? Quem nos garante a sua coragem e a sua audácia e, até, o seu humanitarismo em retratar uma comunidade tão diferente da nossa.

Viveram durante 3 anos mas a verdade é que nunca percebemos onde eles viveram! Alugaram um barraco na favela? Subiam e desciam o morro todos os dias para se instalarem num luxuoso apartamento da zona sul, ao fim da tarde? Comeram, beberam, dormiram e respiraram o ar da favela ou “limitaram-se” em ganhar a confiança de uma comunidade que os recebia pontualmente?

E dos 3 anos? Passaram 2 anos e 11 meses a travar conhecimento com os moradores da favela, para depois os filmar no último mês? É que não se percebe o tempo a passar! Fica a ideia que o documentário não é mais que um retrato estático das pessoas escolhidas. Estas não crescem, não mudam, não envelhecem, não alteram o seus afazeres durante 3 anos? Raramente mudam de vestuário, de aparência e até de linguagem. Sentimos como se se tratasse de uma fotografia em movimento e não de um filme que percorresse a vida destas “personagens”!

Mas o meu principal problema é mesmo com o dia-a-dia da favela! Mais de 300.000 pessoas (sobre)vivem naquele Complexo. Muitas delas moram lá por necessidade e porque efectivamente sentem lá a sua casa. Muitas delas sobem e descem o morro todos os dias para irem trabalhar e voltam à noite para alimentar os seus filhos! Estes passam o dia na escola e/ou em ONG’s que se preocupam, de facto, com o seu futuro e com a sua educação!

Porém, a opção dos cineastas portugueses passou pela escolha de 4 estereótipos, do mais básico que existem, para representar uma massa imensa de pessoas e géneros. Assim, “nasce” a dona de casa que vive na mais pura miséria, Dona Célia. O rapper milionário com ilusões de grandeza e cheio de boas intenções que pretende fazer o bem para uma comunidade a quem ele é totalmente alheio, MC Playboy. O faz-tudo lá da comunidade e responsável por mostrar aos irmãos o que de mais podre existe na favela, Seu Zé. Os meninos e os matulões que fruto das circunstâncias e da própria ganância se dedicam ao crime organizado, ao tráfico de droga, ao roubo e à milícia urbana, “os traficantes“.

Para alguém que nunca foi ao Brasil, nem tão pouco ao Rio de Janeiro, muito menos a uma favela, este retrato pitoresco do que de mais pobre e podre existe num lagar daqueles, resultará, certamente, numa imagem marcante e distinta porém, ela não retrata, nem de perto, a realidade da maioria dessas 300.000 pessoas! Muitas delas em condições desumanas, vivem as suas vidas honradas e repletas de sonhos, com um brilho nos olhos e uma alegria na cara de fazer inveja à maioria de nós. Vivem do seu sacrifício, rodeadas de miséria, de insegurança e de incertezas, mas lutando diariamente para um futuro melhor para si e, sobretudo, para os seus!

Tal como é apanágio deste blog o cinema é visto de forma pessoal e única, pelo que esta não é uma crítica à visão dos responsáveis pelo filme (nunca o poderia ser!), é, sim, uma critica àqueles que quiseram transformar um pedaço dessa experiência fabulosa num retrato fiel (e generalista) dessa mesma realidade! “Apenas” faltou muito para o ser!

Enaltece-se o esforço (e a coragem)… critica-se o resultado final!
Infelizmente!

Site Oficial
Trailer

Curiosamente achei a reportagem bem mais fiel e acutilante que o próprio filme!

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  1. brunabora diz:

    Baixar o Documentário – Complexo Universo Paralelo – http://mcaf.ee/293ui

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