“Hereafter – Outra Vida” de Clint Eastwood
Talvez estejamos perante o menos brilhante filme de Clint Eastwood, nos últimos 10 anos (desde o razoável Blood Work)…
O consagrado actor/realizador norte-americano habituou-nos MUITO mal e, a cada novo filme, as expectativas são sempre enormes!
Hereafter mantém a veia poética do seu melhor cinema mas falta-lhe a garra e a redenção de outras obras memoráveis.
Depois da bem sucedida parceria com Matt Damon em Invictus, actor e realizador repetem a dose, agora num registo totalmente diferente e consideravelmente afastado do “habitat natural” de Eastwood. Envolto num clima sobrenatural e psíquico, o realizador toca em algumas das mais profundas feridas (colectivas) dos últimas anos, dando-lhe um toque distinto e… espiritual!
Não é tanto pela temática (nem sempre acessível) que o filme perde um pouco da sua magia, nem tão pouco pela qualidade do argumento (ainda que lhe falte o brilho intenso de outros da autoria de Peter Morgan), o senão estará mesmo numa obra demasiado distante do comum dos “mortais”!
A chuva continua a cair no momento certo, o ar falta(-nos) naquele instante claustrofóbico, a câmara permanece no preciso ângulo que nos permite entrar pela vida das personagens e a música, como sempre, pontua delicadamente cada gesto e cada pausa.
Resumindo, não fosse uma obra de Clint Eastwood, estaríamos perante um filme de elevada qualidade. Mas…
Marie LeLay (Cécile De France), uma famosa jornalista francesa, vê a sua vida alterar completamente depois de uma experiência traumática e reveladora. Marcus e Jason (Frankie e George McLaren), dois jovens londrinos, vivem diariamente num limbo familiar que será abalado por um acontecimento trágico! Por sua vez, em San Francisco, George Lonegan (Matt Damon), tenta levar uma vida normal, ainda que tal pareça impossível face ao seu delicado dom!
Os “mistérios do além” irão juntar este improvável trio que encontrará nas suas dúvidas um elo de ligação demasiado forte…
Relativamente aos desempenhos o destaque irá quase por completo para Matt Damon que volta a mostrar todo o seu talento num registo invulgar e para a belga Cécile De France que se revela numa agradável surpresa, sempre num registo muito contido mas igualmente sentido.
Sente-se a aura do mestre mas, Eastwood que me perdoe, desta vez faltou algo para tornar o filme sublime! Isso é que é ser exigente… não?