“Nos Idos de Março (The Ides of March)” de George Clooney
Já várias vezes abordamos a questão da ficção ser bastante mais provável que a própria realidade… Ora se para os “puristas” norte-americanos, The Ides Of March possa servir como um autêntico “abrir de olhos”, para os demais, isto será, meramente, a ponta do iceberg.
Poucas dúvidas restam que, nos nossos dias, a política é um mundo perverso, manipulativo e interesseiro que não olha a meios (nem a pessoas) para atingir os seus intentos. O que George Clooney faz aqui é mostrar, por A+B, como isso pode ser feito longe dos olhares de todos nós!
Para além de desconstruir todo o sistema eleitoral das presidenciais norte-americanas, não receando em expor tanto republicanos como democratas, o actor/realizador alerta para as fortes falhas morais e de carácter que condicionam a conduta de todos os que querem sobreviver nesse (inóspito) mundo.
Apesar dos nomes de destaque que enquadram o filme (George Clooney, Philip Seymour Hoffman, Paul Giamiatti), a câmara centra-se nos ideais e na inocência de Ryan Gosling, um director de campanha/assessor de imprensa do mais que provável vencedor democrata das primárias norte-americanas enquanto este tem o seu primeiro confronto com a (distorcida) realidade que acompanha a generalidade das eleições…
Mais do que a perda da inocência dos seus intervenientes, o filme expõe as fragilidades de uma democracia que se auto-intitula como a maior/melhor do mundo.
Há um certo tom de decepção perante aqueles que deveriam ser os representantes máximos desses princípios e, acima de tudo, uma constatação que ninguém pode fugir a um sistema demasiadamente corrupto e volátil.
Do ponto de vista cinematográfico, o filme marca o regresso do “realizador” George Clooney aos temas mais sérios (depois do ligeiro Leatherheads), território onde sente-se notoriamente mais à vontade e onde pode expressar de forma mais veemente o seu ponto de vista (recordemo-nos do intenso Good Night, and Gook Luck)!
Ainda assim o principal destaque terá de ir para Gosling (Crazy, Stupid, Love., Blue Valentine) que continua a cimentar uma enorme carreira, acumulando qualidade a cada desempenho.
Desta vez terá muito que agradecer a dois actores brilhantes, Giamatti e Hoffman, e porque não também a Marisa Tomei e Evan Rachel Wood, que lhe preparam o palco de forma irrepreensível!
Talvez The Ides of March não seja afinal, aquela obra memorável que se preparava para lutar pelos principais prémios deste ano cinematográfico. No entanto, isso não quererá também dizer que não estejamos perante um filme surpreendente e bem acima da média que graças a um argumento virtuoso, nos prende até ao último suspiro!
… e quem sabe não lhe restará ainda algum momentum para entrar na corrida?
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