“Uma Separação (Jodaeiye Nader az Simin)” de Asghar Farhadi
Carta de apresentação: um dos filmes mais premiados do ano e o mais forte candidato ao Oscar de Filme Estrangeiro!
Resultado final: uma história intemporal e que, há excepção de um ou outro apontamento cultural, reflecte com algum sadismo as desastrosas consequências das desavenças de um qualquer casal por esse mundo fora.
De qualquer forma não há como fugir à origem do filme. Numa época em que o Irão é visto de forma preconceituosa por grande parte do mundo ocidental (em virtude de algumas opções interna e externas do seu regime) é com enorme satisfação que constatamos que a (7ª) arte não tem fronteiras!
Asghar Farhadi constrói uma narrativa melindrosa que nos deixa em constante estado de alerta, na expectativa de a qualquer momento ocorrer algo verdadeiramente destrutivo!
Ficamos a conhecer uma sociedade diferente, com uma cultura familiar distinta (especialmente no que diz respeito à dicotomia homem-mulher), um sistema judicial peculiar mas com uma dinâmica pais-filhos não assim tão distante da nossa.
Estamos em pleno médio oriente, num país com algumas tradições que nos deixam realmente perplexos mas quando um homem e uma mulher se separam não existem assim tantas diferenças. Mas nem só de questões familiares vive o filme e isso é que o torna numa obra obritagória.
Será injusto afirmar que parece estarmos perante um documentário (tal a autenticidade dos factos e das situações retratadas) mas isso, por outro lado, apenas abonará em favor de um filme de ficção cuja qualidade vai muito para além de uma qualquer obra de entretenimento.
Nota final para a sala do Cine Estúdio do Teatro Campo Alegre, único espaço onde, por estes dias, é possível assistir a este premiado filme na região norte. Não terá o conforto e a amplitude de outros espaços mas conseguem recriar (ainda que em pequena escala) a intimidade das antigas salas de cinema citadinas. Um exemplo a reter!
Se conquistar o Oscar para Melhor Filme Estrangeiro não se poderá dizer que não seja merecido (como aliás já o é a nomeação para Melhor Argumento Original!).
É destas manifestações que o Mundo precisa! Bem mais frutíferas do que qualquer meio de opressão, injustiça ou disputa. Afinal, tal como o filme se esforça em esclarecer, não somos assim tão diferentes uns dos outros!