“Vergonha (Shame)” de Steve McQueen
Com a eminente estreia deste Shame no nosso país, vi-me obrigado a ver (finalmente) a obra de estreia de Steve McQueen – o tal filme que lançou a carreira de Michael Fassbender – de seu nome Hunger. E que filme!
É pois, bem fresco na memória deste retrato implacável da luta de Bobby Sands contra o Estado britânico, que assisti a Shame.
O contraste não poderia ser maior. A luxúria, a avareza, o vício e a solidão são agora, os temas centrais de uma obra que choca até o mais libertino dos liberais.
Não há como evitá-lo! O filme vai muito para além das recorrentes cenas de sexo (quase) explícito mas estas funcionam, inevitavelmente, como o seu elemento central.
Brandon Sullivan (Fassbender) é um bem sucedido publicitário que leva uma vida de (charmoso) playboy. Porém, por detrás dessa imaculada (mesmo que criticável) imagem pública, o inveterado solteirão esconde uma existência (privada) bem mais dura e sombria.
Desamparado de qualquer sentido de moralidade, Brandon envolve-se em constantes encontros sexuais (não olhando a custos, géneros ou números) que mesmo assim são incapazes de saciar a sua extrema dependência física… e emocional.
No meio deste turbilhão de emoções e conflitos surge Sissy (Carey Mulligan), sua irmã mais nova. Uma cantora de imenso talento, Sissy denota uma fragilidade similar à do seu irmão, ainda que esta se manifeste de forma completamente distinta.
Juntos e apesar do inevitável choque fraternal, os dois irmãos tentarão lidar, da melhor maneira, com as suas lacunas morais e emocionais.
Tal como tinha acontecido na sua obra de estreia, McQueen filma toda esta fragilidade com uma sensibilidade invejável, optando invariavelmente pelo caminho mais tortuoso e visual. No cinema do realizador inglês não há espaço para conjecturas ou suposições. Tudo o que acontece é visível em frente das câmaras, por muito que isso possa chocar o espectador. Já o tinha feito com a greve de fome de Bobby Sands, agora fá-lo com a vergonha de Brandon Sullivan.
Se McQueen se mantém fiel à linha directora que tem moldado a sua (ainda curta) carreira e o seu (imenso) sucesso junto da crítica e do seu público, já Fassbender vai muito para além do que tinha demonstrado até agora, confirmando todo o seu talento e justificando prémios e nomeações (e a injustiça dos Oscars!).
Mais não seja pela coragem demonstrada em expor o seu corpo e a sua alma, Fassbender está predestinado a ser um dos grandes actores dos próximos anos.
Shame estará bem longe de ser um filme consensual e fácil de encaixar.
Sem olhar a preconceitos tanto realizador, como protagonista ou secundária, seguem a direito no seu intento de contar uma história realmente… dolorosa!
Bem para lá dos vícios e das fraquezas de cada um, o filme demonstra que há realidades bem mais comuns do que aquilo que podemos imaginar.
Não tenham dúvidas disso… e não critiquem sem tentar, primeiro, compreender!
Olá,
Que excelente comentário1
Se «A luxúria, a avareza, o vício e a solidão» sºao os temas centrais deste filme, entao terei que o ver.
Penso é que este filme não está ainda em exibição no Funchal.
Abraço
Bons Fimes