“360” de Fernando Meirelles
Fernando Meirelles já assinou filmes como Cidade de Deus, Constant Gardener e Blindness. 360 é “apenas” mais um marco impressionante na carreira de um autor de elevadíssima qualidade!
Desta vez o realizador brasileiro envereda pelo cinema mosaico, numa composição de histórias (subtilmente) interligadas que viajam por todo o globo e abordam temas tão distintos quanto actuais.
Neste capítulo a presença de Peter Morgan aporta um valor acrescentado ao filme, ou não fosse o inglês um dos mais profícuos e talentosos argumentistas da última década!
Como em qualquer filme mosaico as histórias são curtas e singelas mas, para nosso belo prazer, igualmente precisas e acutilantes. Somos constantemente mantidos no limbo, tentando antecipar o que irá acontecer porém, rapidamente nos reduzimos ao nosso papel de meros… mirones.
Verdadeiramente é assim que me senti. Alguém que é colocado bem no centro da história mas a quem não foi entregue o guião. Bons e maus, vilões e heróis, altruístas e gananciosos, tal distinção não existe… de todo! Cada contexto, cada intriga, cada momento é igualmente dúbio e decisivo. As acções irão moldar definitivamente cada uma das personagens, resta-nos absorver mas sem julgar, nem avaliar, pois seria fortemente injusto para com eles…
Anthony Hopkins, Jude Law, Rachel Weisz, Ben Foster, Jamel Debbouze e os brasileiros Maria Flor e Juliano Cazarré são alguns dos talentos que colocam a sua arte à disposição de uma causa maior que percorre cidades como Viena, Paris, Londres ou Denver.
O adultério, a corrupção, os maus tratos, o poder, a religião, a redenção e a luta constante por um futuro melhor são alguns dos temas abordados num filme que fala de pessoas e da incessante consciência que cada passo, cada decisão irá moldar definitivamente quem somos e o que iremos ser/fazer!
Curiosamente 360 não chega a ser um filme pesado. É, isso sim, um filme sincero que não esconde as amarguras, as alegrias e a fragilidade do dia-a-dia de qualquer um de nós. Estamos sempre a tomar decisões decisivas… disso não tenhamos dúvidas!
Incrivelmente a mais recente obra de Meirelles chega a Portugal depois de um percurso comercial errático que não faz, de modo algum, justiça à qualidade que apresenta.
Para mim seria muito mais natural que estivesse associado a prémios e louvores do que vetado a um estranho esquecimento mesmo na comunidade cinéfila.
Parece haver por aqui uma História por contar!