“007 Skyfall” de Sam Mendes
Comentário não aconselhado a quem ainda não viu o filme…
Em 2006, 4 anos depois de estrear aquele que acabaria por ser o último filme (Die Another Day) com Pierce Brosnan na pele de 007, os produtores do mais profícuo franchise da história do cinema apostaram forte na total remodelação de um herói que parecia, à altura, desajustado do seu tempo.
Com a excepção de Judi Dench, Casino Royale era todo ele uma reconfiguração da História (recente) do eterno agente secreto, dando-lhe uma nova origem, um novo perfil (físico e psicológico) e novas… fraquezas.
O processo foi considerado um êxito – pessoalmente, não posso dizer que tenha partilhado desse entusiasmo generalizado – e seguiu-se, na mesma linha, Quantum of Solace, meros 2 anos depois.
Problemas financeiros da MGM adiaram a chegada deste Skyfall e contra todas as expectativas, James Bond (o franchise) voltou a… reinventar-se! Do ponto de vista totalmente subjectivo, fiquei encantado com o novo (velho) rumo!
Em poucas palavras pode-se dizer que todos os pequenos diamantes, típicos dos tempos dourados de James Bond (os anos 60 e 70), estão de volta… mesmo que alguns revelados apenas na última cena do filme!
Mas seria de todo injusto resumir Skyfall ao seu efeito nevrálgico em James Bond!
O filme de Sam Mendes (desde logo uma imensa surpresa a presença do conceituado realizador inglês!) é uma obra exemplar do cinema de acção em geral, e da saga 007 em particular.
Todos os ingredientes (desempenhos, enredo, cenários, realização, música, emoção, acção, História) encaixam com uma perfeição extrema e mesmo não sendo brilhantes em separado, a sua conjugação resulta num filme irrepreensível!
Javier Bardem é o elo mais forte no que diz respeito aos desempenhos. O seu Mr Silva acrescenta mais um papel de distinção ao rol de personagens distorcidas que o actor espanhol vem acumulando. Fisicamente, não será a figura mais imponente mas há um misto de loucura, deboche e precisão que o tornam imprevisivelmente perigoso!
Daniel Craig e Judi Dench exploram, mais intensamente que nunca, a relação entre Bond e M. e só haverá elogios para ambos!
Os locais repercutem o paradigma global da saga, viajando de Istambul até Macau, de Shanghai até à Escócia mais profunda, enquanto que a história é suficientemente rica para nos manter indecisos quanto ao seu desenlace e rumo, até bem perto do fim.
Por entre este vasto conjunto de subtilezas Mendes tem ainda tempo para nos oferecer alguns planos deliciosos, como, por exemplo, o momento em que o retrovisor do Aston Martin se torna o espelho de uma visão intimidadora. Mas não é só de “truques” de câmara que vive o seu contributo. Há um equilíbrio preciso entre a acção e a emoção, o risco e o sentimento, a vertigem e a fraqueza!
Adele. A jovem cantora inglesa parecia, à partida, a escolha óbvia. Porém, a música parecia vaga, viciante mas algo perdida no tempo e no espaço. Depois de ver o filme, tudo faz bem mais sentido e “Let the sky fall | When it crumbles | We will stand tall | And face it all together” passa a ser um refrão para muitos e muitos meses!
Mas a cereja no topo do bolo é mesmo a preciosidade daquela cena final. Depois de um filme extasiante e exacto, há detalhes que nos deixam totalmente desarmados.
Bond (como o conhecíamos) está de volta!
Parece obrigatório que a(s) sequela(s) não demore(m). Só assim faria sentido muito do que vivemos… durante 2h30!
Para mim, e resumindo numa frase, o melhor James Bond que me lembro de ver.
Daniel Craig criou o seu James Bond. Nestes últimos filmes, deu-lhe densidade mas manteve o charme (diferente, é certo. menos espalhafatoso).
Judi Dench finalmente tem um papel à sua altura nesta saga de espiões.
Javier Bardem está bem como vilão, mas tinha mais expectativas. Talvez tenham sido criadas pelas críticas especializadas.
em suma, fiquei expectante pela próxima aventura do James Craig…Daniel Bond… James Bond!
(para mim, James Bond e Daniel Craig já se confundem)