“Até que a Sorte nos Separe” de Roberto Santucci
Depois do drama biográfico (Gonzaga), arrisquei na comédia brasileira.
Nada melhor do que um dos filmes mais vistos do ano por cá… pensei eu. Infelizmente, o resultado final acabou por deixar muito a desejar!
Já levou ao cinema mais de 3 milhões de espectadores, porém, para além de entreter durante quase 1h30 e permitir algumas sonoras gargalhadas, o filme nada mais tem a oferecer.
O ponto de partida tem imenso potencial – um jovem casal que depois de ganhar a lotaria conseguem estoirar TUDO – mas Roberto Santucci não tem pulso para construir uma narrativa minimamente aceitável.
São muitos (demasiados?) os estereótipos explorados – do casal humilde a quem o dinheiro fez perder a mínima noção do ridículo, passando pelo vizinho que vive uma vida totalmente antagónica mas igualmente conflituosa – e se alguns até funcionam, graças ao talento cómico de Leandro Hassum, o enredo revela-se demasiado leviano a dado momento, deixando a nu, por exemplo, as lacunas da personagem interpretada por Danielle Winits.
O cinema brasileiro a atravessar, muito provavelmente, um dos seus períodos mais profícuos e abrangentes, acaba por falhar no género que, à partida, seria o menos expectável. A comédia, e o entretenimento, faz parte do quotidiano brasileiro, um povo – generalizando – que ama a diversão e a descontracção e que não perde uma oportunidade para sorrir.
No entanto, desta vez, os intervenientes seguem o caminho mais fácil, da comédia mais popular e acessível, sem qualquer preocupação em construir uma narrativa séria e coerente.
Palavras ásperas, pode-se dizer de um filme que apenas pretende entreter, mas o cinema contemporâneo não se pode contentar em ser simples… especialmente correndo o risco de ser revelar simplório!
15 anos depois de terem ganho 100 milhões de reais na lotaria, Tino (Hassum), antes um escultural atleta agora uma imensa bola de gordura, descobre que o dinheiro ACABOU!
Foram tantas as extravagâncias e os devaneios que Tino e Jane (Winits) acabaram por estoirar uma fortuna imensa. Obrigado a refrear gastos e a revelar a verdadeira situação (financeira) à sua família, Tino acaba por colocar o pé na poça… e de que maneira!
Esgotado o filão cómico, o filme tenta encontrar novo rumo… mas sem sucesso.
Falta coerência à última meia hora e falta talento aos envolvidos para acrescentar qualidade a um argumento que promete mas que acaba por estatelar-se ao comprido.
Não posso dizer que não me diverti nalguns momentos mas no final de cada gargalhada ficava, invariavelmente, um sabor demasiado amargo nos lábios.
Foi pena… mas até que ponto podemos verdadeiramente criticar um filme que já vai em mais de 3.000.000??