“Lawless (Dos Homens Sem Lei)” de John Hillcoat
Filmes baseados em factos verídicos sempre foram o meu ponto fraco!
A realidade, mesmo que muitas vezes altamente cinematografada, desperta em mim uma sensação de curiosidade extrema que me faz sentir uma ligação imediata com a larga maioria dos filmes que transportam essa expressão sintomática: baseado em factos verídicos.
No caso deste Lawless esse é apenas um mero detalhe que acrescenta ainda mais a um filme verdadeiramente explosivo!
Depois do pós-apocalítico The Road, o realizador John Hillcoat está de regresso com um registo completamente diferente, recuperando uma era particulamente suculenta da História americana (denominada por Prohibition), já retratada em filmes como The Untouchables ou Public Enemies, para dar dois exemplos.
O mundo dos gangsters, da produção e comercialização ilegal de bebidas alcoólicas, da corrupção, dos abusos de poder, da liberdade, da vida no fio da navalha, transporta consigo um romantismo vibrante e quiçá inexplicável, sobretudo pelo endeusamento de personalidades e, consequentemente, personagens que em condições normais seriam meros foras-da-lei.
A História dos irmãos Bondurant segue precisamente esse paradigma invertido.
Forrest, Howard e Jack (Tom Hardy, Jason Clarke e Shia Labeouf, respectivamente) eram 3 jovens empreendedores – produtores e distribuidores de whiskey – que levavam a sua pacata existência no interior do estado da Virginia, longe dos olhares e das mãos da polícia local, mesmo que gerindo um negócio (ilegal e) familiar a todos os habitantes da região.
Ademais rodeados por uma áurea de intocáveis, o quotidiano dos 3 irmãos será profundamente abalado quando um corrupto polícia “da cidade” (Guy Pearce) é designado para supervisionar, no terreno, o combate a essa actividade ilegal.
Entre os seus princípios morais, o desconforto da inesperada presença feminina num meio altamente masculino e um oficial da lei sem escrúpulos, caberá a estes homens tornarem-se Heróis!
Baseado num argumento de Nick Cave (isso mesmo, o músico australiano!), o filme encontra a cada momento o equilíbrio preciso entre o retrato ficcional e o romance verídico que apaixona e vicia o espectador.
Para além da riqueza das personagens, bem mais do que meros brutamontes sem escrúpulos, o filme desponta pela forma impiedosa e elementar como retrata uma época distinta da história norte-americana, na qual a linha que separava ambos os lados da lei era constantemente ultrapassada.
Neste capítulo, se os homens (mencionados acima) assumem naturalmente maior destaque, seria indelicado não mencionar que cabe às presenças femininas, nomeadamente Jessica Chastain e Mia Wasikowska, o toque subtil que ajuda a tornar todas as personagens mais humanas e reais. A fraqueza exposta pela sua presença acaba por revelar um lado bem mais sensívil destes homens aparentemente impenetráveis.
Eram outros tempos, inquestionavelmente, que continuam a ser retratados no cinema com elevada mestria e redobrado cuidado. Um período bastante rico e que pela sua conflitualidade e significado, terá, certamente, ainda muitas e boas Histórias por contar!
Hillcoat continua a deslumbrar atrás das câmaras enquanto actores com Tom Hardy ou Jessica Chastain acrescentam mais um marco irrepreensível da sua magnífica caminhada.
Duas notas finais para Guy Pearce, um enorme talento da representação que parece notavelmente desaproveitado em Hollywood e para Shia Labeouf que pese embora os muitos detractores volta a demonstrar que por detrás de tanto (demasiado!?) hype há, de facto, um actor com qualidade!
Um filme que, em meu entender, pode muito bem almejar algumas referências mais lá para o final do ano, tanto ao nível da representação como de outros intervenientes no filme.
Uma das grandes surpresas/revelações de 2012!