“O Palhaço” de Selton Mello
Não é primeira vez que o ator Selton Mello trabalha como Diretor, mas certamente é a sua mais bem sucedida incursão na direção.
O Palhaço é, sobretudo, um filme para quem gosta de Cinema, uma obra refinada com muito apuro técnico. Lembrei-me do filme espanhol Sexo por Compasión (1999) que inicia em preto e branco e paulatinamente vai assumindo cores na medida em que seus personagens vão despertando para a vida. Genial artifício da fotografia.
Este mesmo recurso é utilizado de forma parecida no filme de Mello. Quando seus personagens adentram o picadeiro, assumem um colorido exuberante. Quando o espetáculo termina e as cortinas são definitivamente fechadas, as cores da rotina, da insatisfação e do vazio dão o tom. Pura metáfora!
No filme, Selton Mello protagoniza o engraçado palhaço Pangaré que é uma das estrelas do circo Esperança (repare como é sugestivo esse nome ao contexto que o filme apresenta) que excursiona pelas cidadezinhas do interior. Seus gestos demasiadamente teatrais e suas piadas vez por outra picantes fazem sucesso e ajudam a garantir a sobrevivência da trupe. Mas quando o espetáculo do dia chega ao fim, o dinheiro é contabilizado e a maquiagem retirada, conhecemos Benjamim, que não tem graça alguma, é desbotado e triste.
Desde o início percebemos que uma grande insatisfação injustificada move o seu personagem, que sente crescer dentro de si um vazio tão grande quanto as enormes paisagens captadas pelas câmeras. O problema é que nem ele sabe explicar os motivos daquela sensação, que nos é apresentada pelo seu eterno olhar perdido, na dificuldade para travar conversas com estranhos, na insônia e no crescente desejo por um ventilador.
Tudo é simbólico na narrativa e talvez por isso O Palhaço seja um filme tão reflexivo e poético. É justo destacar a atuação memorável de Paulo José que faz o palhaço Puro Sangue, dono do circo e pai de Benjamim. Aliás, todo o elenco é competente destilando personagens interessantes em situações ora corriqueiras, ora inusitadas.
Sem dúvida esta é uma obra que consolida o trabalho de Selton Mello como um dos expoentes do cinema brasileiro na última década e passa a ser uma referência do gênero através de um filme sensível sobre a eterna insatisfação humana.
by Christian Falkembach
E para chamar a vossa atenção ao grande Selton Mello e ao cinema brasileiro deixo cá o comentário. O número escolhido para o passatempo "O Mascarilha – Lisboa" é o 13, do Treze Futebol Clube, meu clube de futebol no Brasil, lol! 🙂
Bom filme ao vencedor! 😉