“Amor (Amour)” de Michael Haneke
Falando em prémios, um dos comentários que estava em falta de 2012 era “apenas” do Melhor Filme Europeu!
Bem, para além de Melhor Filme, a mais recente obra de Michael Haneke arrebatou, igualmente, os prémios para Realizador, Actriz Principal (Emmanuelle Riva) e Actor Principal (Jean-Louis Trintignant). Preparando-se para conquistar a América nas próximas semanas.
Quanto ao prémio de Emmanuelle Riva nada a contestar… antes pelo contrário! O desempenho da veterana actriz francesa é de uma qualidade e de um detalhe tocantes a todos os níveis. Quem já teve a melancolia de conviver (diariamente ou mesmo pontualmente) com uma pessoa num ciclo evolutivo idêntico ao de Anne, facilmente reconhecerá todos os sinais e a perfeição da sua performance. Do que vi até agora estamos perante a GRANDE candidata ao Oscar de interpretação feminina deste ano!
Haneke mesmo que uns quantos furos acima de Das weiße Band ainda não foi desta que me convenceu por completo como cineasta/autor. Bem sei que a maioria estará por esta hora a ranger os dentes com vontade de me enxovalhar mas não consigo vislumbrar o dito brilhantismo que tantos apregoam… Cinema lento, pesado, ambicioso mas muitas vezes arrastado e doloroso.
Já os restantes prémios não padecem minimamente do meu acordo. Jean-Louis não tem um desempenho que supere, por exemplo, os de François Cluzet ou Omar Sy (em Intouchables). E o Filme, mesmo que tocante, não é mais do que um retrato filmado de uma patologia que infelizmente se tem vindo a tornar cada vez mais comum. O elogio maior passa pela sua plena autenticidade e pelo carinho empregue por Haneke num tema tão delicado. Mas não deveria bastar para tanta bajulação.
Em meu entender, Amour merece toda a atenção que tem recebido… mas o mesmo não posso dizer da avalanche de prémios que tem ganho. Sem dúvida trata-se de um retrato bastante preciso de uma realidade crua e dura mas que terá bem mais impacto naqueles que vivem num perfeito mundo de ilusão, bem distante dos que a conhecem bem de perto.
Casados há mais de 60 anos, dois reformados professores de piano, vivem na sua confortável habitação parisiense dependendo um do outro para o seu dia-a-dia. A sua filha (Isabelle Huppert) visita-os pontualmente e a relação entre eles é no mínimo… distante.
Quando Anne (Riva) começa a revelar os primeiros sintomas de demência, caberá a George (Trintignant) cuidar da sua esposa e da casa. À medida que a doença evolui as situações tornam-se cada vez mais dolorosas e definitivas e apenas o Amor permitirá superá-las.
Restritos ao interior da casa, vamos sentindo uma crescente familiaridade com as personagens mas, também, uma crescente claustrofobia que se intensifica à medida que vamos percebendo que o espaço é cada vez menor e menor.
Noutra conjuntura ou para outras pessoas, acredito que Amour até fosse/seja uma obra distinta. Para mim não o é!
Ah, é verdade, a Rita Blanco aparece a certa altura do filme, trocando umas palavras com Trintignant. Ela faz de empregada doméstica a arranhar um francês com um sotaque nitidamente ibérico…
Há estereótipos que nunca se irão desvanecer!?!
4 pipocas salgadas!