“Terra Prometida (Promised Land)” de Gus Van Sant
Falou-se de Oscars®, recebeu uma Menção Especial no Festival de Berlim deste ano e chega a Portugal no mais profundo anonimato…
Não deixa de ser um percurso curioso para uma obra intimamente política que terá deixado certamente muita gente boa, no mínimo, desconfortável e que podia e devia ser louvado como uma obra de referência.
Pois é, o reencontro de Gus Van Sant e Matt Damon, 15 anos depois de Good Will Hunting, é uma obra EXTRAORDINÁRIA!
Como nunca, o incomparável duelo de forças entre poderosos e submissos, ricos e pobres, egocêntricos e modestos, é retratado de forma real, franca e totalmente esclarecedora. É um daqueles filmes que pode começar uma revolução… ou que pode ser desmoralizado, desacreditado e desvalorizado para a evitar!
Promised Land começa por parecer um retrato de costumes, da velha e imparável luta entre os que podem e os que se sujeitam porém, acaba por revelar-se MUITO mais do que isso!
É, sim, um intenso manifesto contra o estilo de vida de uma sociedade atual em que os valores estão irremediavelmente invertidos e em que o dinheiro e o poder a tudo se sobrepõe.
Há muita demagogia de ambas as partes da barricada, disso não tenho dúvidas. Do romantismo dos mais conservadores ao excesso de determinismo dos mais progressistas, não faltam argumentos para defender cada um dos lados da causa. Ainda assim, há algo inquestionável e que deve obrigar todos nós a uma profunda reflexão!
Steve Butler (Damon) e Sue Thomason (Frances McDormand) trabalham para uma mega empresa de exploração de recursos naturais (mais propriamente gás natural) que percorre as terras do interior dos EUA, garantindo aos humildes proprietários das terras que querem explorar (de onde irão extrair esse precioso combustível) de que a sua salvação (financeira) está para breve.
Porém, aquilo que se afigurava como uma simples formalização de contratos, irá complicar-se perante as questões de segurança levantadas por alguns dos proprietários e, sobretudo, pela ação de um imprevisível e talentoso ambientalista (Jason Krasinski).
Confinados à pequena cidade do interior da Pennsylvania que serve de palco ao filme, vamos conhecendo passo a passo as motivações de cada um dos protagonistas mas, também, o dia-a-dia de muitos dos seus habitantes. À medida que vamos conhecendo uns e outros, acabamos, também, por olhar para nós próprios e quando chegamos ao desenlace final dificilmente já não teremos tomado um partido.
Gus Van Sant, um dos grandes cineastas e autores norte-americanos da atualidade, não tem qualquer receio em assumir a sua parcialidade nesta discussão, expondo, como poucos, a fragilidade moral de uma sociedade norte-americana demasiado preocupada no sucesso e na riqueza financeira.
E se o realizador esta irrepreensível, o mesmo pode-se dizer a respeito de Matt e John. Se no que diz respeito ao primeiro não mais do que o que seria expetável, já Krasinski permanece estranhamente alienado de um percurso que deveria ser bem mais meteórico e reconhecido.
Grandes desempenhos e grande história, num filme que supera, e de que maneira, as expetativas!