“Deadfall – A Sangue Frio” de Stefan Ruzowitzky
Lembra Fargo (dos irmãos Coen) mas, também, The Ice Harvest (de Harold Ramis). O gelo, a neve, o frio e o crime são os ingredientes de um thriller de forte cariz europeu… ou não fosse realizado pelo austríaco Stefen Ruzowitzky.
O homem, vencedor de um Oscar® (de Melhor Filme Estrangeiro) pelo competentíssimo Die Fälscher, agarra-nos logo nos primeiros momentos com um epílogo vertiginoso porém, de tanto tentar controlar o enredo, acaba por limitar a sua evolução até um desenlace comedido e de certa forma previsível.
Mas voltemos ao início. O filme tem algumas ideias preciosas e, sobretudo, um enquadramento “paisagístico” que me atrai profundamente. A construção das personagem, as suas ambições e os seus pesadelos encaixam bem com o ambiente inóspito e doloroso que as enquadra. É fácil perceber o que as move e como se sente, a cada momento.
Os irmãos Addison e Liza (Eric Bana e Olivia Wilde) são agora fugitivos em terra desconhecida quando sofrem um acidente de viagem enquanto fogem de um assalto bem sucedido. Para segurança de cada um, Addison toma a iniciativa de se separarem e tentarem a sua sorte individualmente, tendo a fronteira com o Canadá como destino.
Cada um segue, então, o seu rumo. Addison acabará por exorcizar alguns dos seus demónios enquanto Liza encontrará um oásis no meio de uma implacável tempestade.
São muitas as metáforas utilizadas ao longo do filme. Bem para lá do enredo direto e rigoroso – sem receio de exibir alguns elementos mais explícitos – há todo um conjunto de subtilezas e segundas interpretações que ajudam a dar cor (para além do branco) a um argumento aparentemente redutor.
E se o argumento tem as suas subtilezas, os desempenhos ajudam a dar alguma coerência ao filme.
Bana volta a confirmar a sua apetência para fazer papéis difíceis e ambíguos, pegando na sua personagem de Hanna e transformando-a num psicopata emocional.
Wilde transmite uma sincera fragilidade à sua personagem mantendo, contudo, uma incerteza profunda quanto ao verdadeiro carater e espírito desta.
Destaque, igualmente, para o surgimento de Charlie Hunnam, que dá aqui o salto (em definitivo?) para a 7ª arte, com um papel que lhe parece encaixar como uma luva.
Não será, certamente, a obra que Ruzowitzky gostaria de apresentar na sua “estreia” em Hollywood. De qualquer forma parece-me suficientemente consistente para lhe garantir nova oportunidade nos EUA.
Mesmo assim, gostei!