“Elysium” de Neill Blomkamp
Uma das experiência cinematográficas mais marcantes dos últimos 5 anos foi ter assistido (no cinema!) à obra de estreia do sul-africano Neill Blomkamp, District 9.
Para lá da qualidade intrínseca dessa obra de culto da ficção-científica deste século, para mais totalmente filmada na África do Sul, o mais fascinante era perceber que com um orçamento relativamente reduzido e sem qualquer nome sonante era possível apresentar uma obra tão rica e desafiante.
4 anos passados e agora com um orçamento e um elenco à medida do seu talento, Blomkamp está de regresso para nova incursão pelo deslumbrante mundo da ficção-científica. E se há duas coisas que se notam bem é o orçamento e o elenco.
Dinheiro gasto de forma grandiosa e coerente sobretudo na criação do idílico paraíso extraterrestre conhecido como Elysium (já que a Terra segue muito o aspeto visual da Joanesburgo de District 9) e um elenco vigoroso onde pontificam nomes como Matt Damon (um fantástico e diversificado ator), Jodie Foster, o próprio Sharlto Copley, William Fichtner, Diego Luna e os brasileiros Alice Braga e Wagner Moura (o Capitão Nascimento de Tropa de Elite)
Fechando a trilogia de 2013 sobre a visão futurista da Terra – depois do cativante Oblivion e do aborrecido After Earth – Elysium é, de facto, o exemplo mais másculo e imaginativo dos 3. Do ponto de vista visual é, também, o mais rico e pomposo dos 3, acrescentando um elenco bem mais talentoso e completo. Ainda assim, sendo nós fieis defensores de que o argumento é a peça fulcral de qualquer obra da 7ª arte, e ávidos apreciadores dos mais imaginativos e surpreendentes twists, temos de dar primazia a Oblivion.
Depois de praticamente destruir o planeta Terra, a humanidade vive uma realidade bipolar. Os mais ricos habitam uma moderna estação espacial, perpetuando as suas vidas e as suas mordomias enquanto a restante população permanece na Terra num clima altamente hostil e de mera sobrevivência.
Um homem (Damon) a tentar recompor a sua vida, acaba por se tornar no líder de uma revolta armada que tem como objetivo único acabar com as monstruosas desigualdades entre os dois mundos.
Como filme de ação, Elysium cumpre na perfeição. Matt Damon e Sharlto Copley assumem com mestria os respetivos papéis de improvável herói e sisudo vilão, sendo auxiliados pelas mais variadas ferramentas bélicas, na sua larga maioria futuristas.
Do ponto de vista visual, a dualidade é arrebatadora e elucidativa, porém, começam precisamente aqui as suas ligeiras dissonâncias. Apesar de deslumbrante quer a visão de Paraíso, quer, sobretudo, a visão de Inferno não são assim tão surpreendentes e inovadoras como esperaríamos… e o mesmo acontece com o enredo!
A intriga palaciana que tem como elemento central a personagem interpretada por Jodie Foster, acaba por se esfumar em breves segundos, dando a ideia que a sala de montagem foi injusta para com ambas. Já o enredo torna-se surpreendentemente banal, sobretudo no que ao desenlace diz respeito, acabando por seguir o rumo mais expectável.
Fica a ideia de que apesar das diferentes condições à sua disposição, o realizador sul africano não nos apresenta um filme assim tão distinto, pelo menos em termos qualitativos, da sua obra de estreia.
Logicamente que com novos argumentos Neill Blomkamp fez mais e melhor – do que em District 9 – mas, pessoalmente, estaria à espera de algo mais arrebatador.
De qualquer forma, um dos melhores filmes deste Verão… mas que, infelizmente, não supera as (nossas) expetativas!