“Paixões Proibidas (Two Mothers/Adore)” de Anne Fontaine

Não é comum um filme estreado no Sundance Film Festival no início do ano chegar ao nosso país pouco mais de 6 meses depois (ainda para mais antes da sua estreia comercial nos EUA) mas ainda bem que assim foi, já que Two Mothers (ou Adore como o filme é agora conhecido) é uma obra soberba.

A mais recente obra de Anne Fontaine (realizadora, por exemplo, de Coco Avant Chanel) tem o brilhantismo de abordar uma temática altamente sensível e até promiscua, com tal cuidado e elegância que é impossível apontar-lhe qualquer falta de gosto ou excesso.

Nota bastante positiva, também, para Naomi Watts e Robin Wright, no papel de duas amigas que partilham uma sincera e longínqua amizade!
Referência ainda para Xavier Samuel e James Frecheville, os dois jovens matulões, filhos das referidas senhoras.

O enredo é bastante simples. Roz e Lil viveram toda uma vida lado a lado como melhores amigas e vizinhas, num pequeno paraíso isolado algures na costa australiana. Agora, mulheres maduras e mães de dois jovens e bem parecidos rapagões as suas vidas irão tornar-se incomparavelmente mais complicadas e efervescestes quando encetam uma relação amorosa… com o filho uma da outra.
Em simultâneo e com pleno conhecimento de causa, as duas quarentonas e os seus jovens filhos tentarão lidar com uma situação a todos os níveis melindrosa.

Sem nunca ultrapassar os limites do decoro, o filme enceta um ensaio sociológico sobre os imprevisíveis obstáculos e consequências de um par de relações altamente improvável. Para lá da relação de amizade que os une, da diferença de idade e da complexidade social que ambos os relacionamentos evidenciam, fica o lado humano (até egocêntrico) de 4 pessoas dispostas a (quase) tudo em busca de um vislumbre de felicidade.

É pois, a busca desse lugar (espiritual) mítico e intangível – a felicidade a qualquer custo – que motiva cada um dos protagonistas deste filme, deixando o lado carnal e o lado social totalmente para segundo plano.
É verdade que sentimos que há algo de errado naquele universo, que o desenlace é inevitável e previsível mas nunca deixamos de pensar que está tudo bem, quando acaba bem!

Sem juízo de valores, sem falsos moralismos, sem preconceitos exacerbados, Two Mothers é um dos grandes filmes deste Verão!

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