“Como um Trovão (The Place Beyond the Pines)” de Derek Cianfrance
Nicolas Winding Refn e Derek Cianfrance (e George Clooney) fizeram de Ryan Gosling uma estrela de Hollywood, da forma mais inconvencional possível.
Pese embora alguns desempenhos mais ou menos notórios, onde se destaca a sua primeira nomeação aos Oscars® pelo independente Half Nelson, 2011 marcou em definitivo a carreira do ator canadiano.
Blue Valentine, precisamente de Cianfrance, Drive de Refn e The Ides of March de Clooney (já para não falar de Crazy Stupid Love) transformaram Gosling numa referência da sua geração, unindo um certo charme juvenil com uma peculiar indiferença e ausência no olhar. O rapaz, aparentemente sem grande esforço assume uma imagem à la James Dean, do século XXI… e com sucesso.
Depois (ou antes) de voltar a colaborar com o realizador dinamarquês (em Only God Forgives), parecia quase obrigatório nova presença na obra de Cianfrance… por muito que as tatuagens sejam, de facto, a única grande novidade ao registo introspetivo de Ryan Gosling.
Terminada a ode, foquemo-nos em The Place Beyond the Pines.
Lição número 1. Esqueçam o título português. É marcante, chamativo mas enganador. O “Trovão”, mais conhecido por Luke (Gosling), é parte preponderante mas apenas do primeiro trecho do filme. No segundo, entra em ação Avery (Bradley Cooper), para no terceiro ato despontarem AJ e Jason.
Luke é um enigmático e talentoso motard, artista do poço da morte, que vê a sua vida virar do avesso quando descobre ser pai de um pequeno bebé, fruto de uma aventura com Romina (Eva Mendes). Na esperança de se tornar um pai mais presente, ele vai tentar “mudar de vida” porém, homem de poucos recursos e engenhos – para lá da mota – o seu futuro não vai ser nada fácil.
E quando pensávamos que seria essa a história o filme, eis que Cianfrance nos deixa… sem chão!
Para lá da competentíssima direção de atores – já antes evidenciada em Blue Valentine – o realizador do Colorado constrói uma narrativa eletrizante e surpreendente mas sempre perante um registo melodramático e amplamente realista.
É pois neste amplo conflito de nuances que se estende o filme. A certa altura começamos a temer que a sua mais recente obra se revele uma never ending story, até que surge um remate certeiro e voltamos a respirar normalmente. Ou quase.
Nada nos pode preparar para o que vamos ver. Não pela sua complexidade ou deslumbramento visual mas, sim, pela sua simplicidade. Três atos. Um cenário, “o lugar para lá dos pinheiros”. Um local diferente… e igual a tantos outros.
Cinema de primeira.
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