“Diana” de Oliver Hirschbiegel
Começamos pela poderoso campanha dos media britânicos – instigados pela coroa? – em descredibilizar e menosprezar o filme.
É curioso mas igualmente melindroso, como mais de 15 anos passados sobre a morte da Princesa de Gales, a comunicação social permanece figura central de tudo que a rodeia… umas vezes a favor, outras contra – como o próprio filme explora – mas sempre presente!
Em última análise acaba por ser esse o enfoque central de todo o filme. Muito para lá da relação amorosa de Diana com o cirurgião paquistanês, o seu “duelo” com a coroa inglesa ou o seu trágico desenlace, a principal temática acaba mesmo por ser a difusa relação da Princesa com os media britânicos.
Amada por muitos e perseguida por mais ainda, a vida da Princesa Diana esteve longe de ser o mar de rosas que todos suspeitariam aquando do seu casamento. E se durante os anos que esteve “protegida” pela coroa, o respeito e distância eram elementares, depois de se verificar a rotura com o establishment, deixou a haver meias medidas.
Acompanhamos in loco os 2 últimos anos da vida de Diana (Naomi Watts). O seu casamento está em vias de ser oficialmente terminado e uma nova paixão irrompe na sua vida. Ele, Hasnat Khan (Naveen Andrews) é um conceituado cirurgião inglês, de origem paquistanesa, que trata a ex-futura-rainha de igual para igual e isso parece funcional em pleno, para uma mulher habituada, desde sempre, aos mais fundamentalistas códigos e regimes.
No entanto, o seu relacionamento terá sido tudo menos pacífico. Apesar da sua proximidade, existe todo um mundo que os separa e não será fácil para ambos lidar com essa nova realidade.
Entretanto, ciente da sua exposição mediática, Diana irá tirar proveito da sua fama e vasta legião de seguidores (nomeadamente fotógrafos e jornalistas da revista cor-de-rosa) para chamar a atenção para alguns dos flagelos do nosso mundo.
Mas não será fácil, separar a vida privada, da pública, numa era em que os limites permaneciam longe de estar definidos.
Por muito que os detratores do filme tentem esconder aquela realidade (totalmente verídica ou não), há histórias que encontram-se em demasia com as memórias que temos dessa altura. Ainda mais, percebendo agora um pouco melhor os meandros por onde Diana se movimentava é fácil perceber que a desconfortável (para alguns!) verdade exposta no filme não andará muito longe da pura realidade. Se é que existe pureza em tais cenários.
Diana seria um ser frágil, desamparado mas ao mesmo tempo ciente das suas fraquezas e bem mais sagaz do que o que a sua imagem pública parecia evidenciar. Hoje não restarão dúvidas dos abusos infligidos de parte a parte nessa intensa “guerra” entre os media e a Princesa do Povo.
Curiosamente parece residir aqui a principal lacuna do filme. Naomi Watts é competentíssima a expor o lado mais visível e exterior de Diana mas distante no que diz respeito à transposição do seu lado mais psicológico e interior.
A Princesa do Povo está lá. Diana aparentemente não. O voyeurismo que a acompanhava incessantemente acaba por se refletir no próprio filme.
No entanto, seria injusto apontar excessivamente o dedo à atriz australiana. O rumo seguido por Olivier Hirschbiegel assume nitidamente a preferência dada ao lado mais reconhecido de Diana, em detrimento de uma visão mais introspetiva. Curiosamente acaba por ser uma surpresa já que em Der Untergang, o realizador alemão foi precisamente elogiado (e galardoado com um Oscar® de Melhor Filme Estrangeiro) graças à forma precisa com que retratava o lado mais intimo de um ditador em queda.
Desta vez Olivier oferece-nos o que à priori todos gostaríamos de (re)ver, porém, a função de um realizador não será muito mais de visionário do que de retratista?
Em suma, Diana assemelha-se bem mais a um telefilme produzido pela BBC – assumindo o que de elogioso isso implica mas, também, o que de restritivo isso significa – do que a uma intensa obra de cinema.
Os fãs da Princesa certamente sairão agradados pelas memórias (mesmo que muito longe da adulação que se esperaria), os curiosos por Diana continuarão na dúvida sobre quem foi, afinal, esta mulher.
Já no que diz respeito à comunicação social (especialmente a cor-de-rosa, subentenda-se) essa sai maltratada de qualquer das formas.