“Never Let Me Go (Nunca me Deixes)” de Mark Romanek
Continuamos.
Antes de atingirem a fama (ela a fazer, recorrentemente, de frágil donzela, ele de Spider-Man) Carey Mulligan e Andrew Garfield partilharam a tela num intenso e desconcertante filme britânico, de seu nome .
A premissa era simultaneamente simples e complexa. Num futuro paralelo (queremos acreditar!) seres humanos são criados para servirem de “peças de substituição” para outros mais afortunados. Atingindo a maioridade estes “doadores” eram submetidos a consecutivas mas espaçadas operações de remoção de órgãos, em função das necessidades e compatibilidades existentes, até o corpo perecer. Até lá os jovens, na maioria das vezes vivendo em comunidade, eram “livres” para viver como qualquer outro ser humano… ainda que sabendo de antemão o seu fado.
Dá para perceber o enorme conflito moral que o filme atravessa. Sem esse “patrono” não haveria presente para estes jovens, com ele não existe futuro.
Carey e Andrew são 2 desses jovens. Cresceram juntos, tornaram-se amigos, confidentes, até o acaso – ou mais propriamente Ruth (Keira Knithley) separá-los. Anos mais tarde, na altura que mais necessitam um do outro, voltam a encontrar-se.
É preciso ter um estômago de dimensões fora do vulgar para lidar confortavelmente com o desenrolar do enredo. Deveras chocante e caótico, o filme escancara por completo qualquer consideração mais emocional sobre a condição humana. Não há meios-termos, paninhos quentes, nem eufemismos. A realidade (explorada no filme) é crua e dura, sádica e masoquista até, mas, temos de reconhecer, Kazuo Ishiguro cria de forma primorosa e sincera uma narativa desconcertante.
Pessoalmente foi mais o incómodo do que a consideração. Tinha uma vaga ideia do que esperar mas não consegui colocar de parte o lado mais emocional e acabei por perder grande parte da objetividade necessária para poder avaliar mãos friamente o filme.
Bons desempenhos e grande argumento num filme que não é para todos… aliás, é só mesmo para alguns.
Fica o registo… e aberto o debate!
A Carey Mulligan é excelente; achei interessante a forma como começa por parecer um daqueles filmes sobre colégios britânicos e o resto vai aparecendo aos poucos.