“O Homem Mais Procurado (A Most Wanted Man)” de Anton Corbijn
Antes de partir, Philip Seymour Hoffman deixou-nos mais um exemplo de toda a sua grandeza.
Baseado num romance de John le Carré – um autor que dispensa apresentações! – a mais recente obra de Anton Corbijn (The American) resulta num filme intenso, vertiginoso e surpreendente que tira partido de forma exímia de todo o talento de um homem que deixa(rá) muitas saudades!
Hoffman é a alma e o motor de um thriller habilmente construído pela caneta de le Carré e o olhar nostálgico de Corbijn. Num misto de brilhantismo intelectual e lunatismo incorrigível, o seu Günther Bachmann é um homem perdido no tempo e no espaço, tentando trilhar o seu caminho (profissional) ao mesmo tempo que pessoalmente nada a a salvar.
Sem falsos moralismo ou heroísmo, não há vilões ou vilões (puros) neste A Most Wanted Man. Tal como na vida real, o preto e o branco dissolvem-se em vários tons de cinzento, sendo impossível apontar quem está para cá e para lá da linha que definido o certo do errado. Os meios justificam ‘sempre’ os fins e num mundo de espiões, serviços secretos, terroristas, políticos e arrependidos é bem mais um “salve-se quem puder” do que outra coisa.
Os nós sentimo-nos quase como um ratinho no laboratório!
Quando um misterioso insurgente tchetcheno (Grigoriy Dobrygin) desembarca em Hamburgo, tanto os serviços secretos alemães como os norte-americanos entram em polvorosa, tentando desvendar em tempo recorde quais as suas intenções. Um homem em particular não olhará a meios para controlar a situação, mesmo que isso implique comprometer várias pessoas. Günther Bachmann (Hoffman) e a sua equipa irão colocar em prática um elaborado plano mas “It takes a minnow to catch a barracuda, and a barracuda to catch a shark.“!
Permanecemos no fio da navalha praticamente durante todo o filme. A incerteza quanto ao rumo a seguir e quando a desenlace obriga-nos a um permanente estado de alerta. De tal forma que sentimo-nos literalmente cansados no final. Exaustos mas plenamente satisfeitos pelo filme, pelo realizador, pelos demais atores, e sobretudo, por Hoffman.
Não irei tão longe ao afirmar que podemos estar perante um oscarizável, ainda assim o desempenho do malogrado ator norte-americano é de qualidade inegável, tal como o próprio filme. Pena é que, numa altura de calor (não muito, é verdade), praia, férias e demais fait-divers, a passagem de A Most Wanted Man pelos cinemas nacionais se faça sem o merecido reconhecimento e atenção do público.
Certamente um dos melhores filmes estreados por cá nos últimos meses, no que ao cinema mais “sério” diz respeito.