“Fúria (Fury)” de David Ayer
Sim, as expetativas eram demasiado altas. Foram muitas as comparações a Saving Private Ryan, por exemplo. O que acabou por exigir muito da obra de David Ayer, E esta ficou aquém desse ‘endeusamento’.
Isso não quer dizer que Fury não mereça ser mencionado juntamente com alguns dos melhores filmes de Guerra que o cinema teve o prazer de nos oferecer… ainda que na subcategoria de subtilezas do género.
Mais do que um filme de guerra, Brad Pitt, Shia LaBeouf, Logan Lerman, Michael Peña e Jon Bernthal protagonizam um belo exemplo de camaradagem, cumplicidade e união, numa época em que o desnorte e a loucura eram omnipresentes. A 2ª Guerra Mundial encaminha-se para o seu (mais do que) reconhecido desenlace porém, ao contrário do que vem nos livros de História, o “passeio” dos Aliados até Berlim foi feito à custa de muito sangue, suor e lágrimas.
Dentro de um tanque Tiger, essa relíquia bélica que ilustrava na perfeição o atraso tecnológico dos aliados face às forças alemãs, 5 militares norte-americanos avançam por entre as linhas alemãs, em pleno solo germânico. Comandados pelo veterano Don Collier (Pitt), Bible (Labeouf), Gordo (Peña), Coon-Ass (Bernthal) e o novato Norman (Lerman) vão ajudar a pautar o rumo de uma Guerra com sentido único. E eles não iriam querer outro ‘emprego’,
Acompanhamos as peripécias dentro de um claustrofóbico tanque de guerra. Os momentos de maior tensão, as pequenas vitórias a cada confronto, as dúvidas e medos de cada um dos seus ocupantes. Mas também saímos lá de dentro para respirar ar “puro”, para ver os efeitos de uma Guerra que teima em não terminar, para perceber melhor quem são os homens por detrás da farda.
A guerra é suja, imprevisível mas igualmente reveladora do mais profundo carácter e convicção dos seus intervenientes. No meio de tanta rebaldaria, temos direito a uma das mais sentidas cenas que tenho memória num cenário de guerra. Um momento que demonstra a verdadeira natureza humana e que contrasta na perfeição com a crueza da generalidade do filme.
David Ayer já tinha demonstrado – mais do que uma vez – a sua habilidade para construir narrativas contundentes onde a ação, a violência e a tensão são rainhas. Ainda assim terá de partilhar todo o mérito com um improvável mas competentíssimo quinteto de atores que transmite, imaculadamente, o lado mais humano da história.
Talvez para quem não tenha tido o prazer de assistir ao israelita Lebanon, este filme acabe por ter outra amplitude mas, a verdade, é que se pretendem ver um filme especificamente sobre tanques de guerra, garanto-vos que nunca vi nada igual! Mas Fury é muito mais do que um tanque, é uma atitude, uma forma de estar e de lutar, o espelho do lado mais humano da Guerra.
No ranking dos oscarizáveis já estreados no nosso país, Fury perde para Gone Girl… e nada mais.