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“Livre (Wild)” de Jean-Marc Vallée

Estranho!
É o que me acorre dizer a respeito do destino comercial deste filme no nosso país.

De entre todos os nomeados aos Oscars deste ano é o único com mais de 1 indigitação – ainda para mais nas categorias de representação – que (ainda) não chegou às nossas salas de cinema. Reese Whiterspoon e Laura Dern (e Jean-Marc Vallée) não o mereciam. Nem nós/vós!

Comecemos, então, pelo realizador canadiano. Jean-Marc pode não ser um nome familiar para muitos mas se juntarmos o título do seu filme anterior, Dallas Buyers Club, poucos lhe ficarão indiferentes. Curiosamente este Wild segue um pouco da dinâmica do seu antecessor. Uma personagem (verídica e) indescritível assume pleno protagonismo, num retrato voraz, cru e memorável.

Laura chega à sua 2ª nomeação, 23 anos depois. Uma vasta carreira que percorre todos os géneros, meios e feitios. E que, agora, alcança uma memorável (e inédita) nomeação num desempenho totalmente em flashback. Uma atriz que irradia simpatia e boa disposição e que recebe um papel (feito) à sua medida. Só podia dar nisto.

Reese está longe de figurar no topo da lista das minhas atrizes favoritas. Com a exceção dos seus tempos de Legally Blonde, nunca foi talento que me convencesse. Aliás, na altura não me pareceu, de todo, que a sua June Carter (em Walk the Line) fosse personagem para roubar o Oscar a Felicity Huffman! Dito isso, o seu desempenho como Cheryl Strayed é, realmente, marcante. Cheio de garra, coragem, segurança e (um pouco de) loucura, terá sido, muito provavelmente, o melhor desempenho feminino do ano – Julianne Moore, incluída.

Wild conta a história verídica de Cheryl Strayed, uma jovem de origens humildes cuja vida desaba após um trágico acontecimento que marcará decididamente a sua vida. Numa derradeira tentativa para encontrar um novo rumo, Cheryl irá aventurar-se ao longo dos quase 2000 metros que perfazem o mítico Pacific Crest Trail, um longo e tortuoso percurso pedestre, idolatrado pelos amantes da natureza e das caminhadas e famoso tanto pela beleza das suas paisagens como pela dureza de alguns dos seus trechos. E enquanto acompanhamos a longa e solitária caminhada, vamos ficando a conhecer um pouco melhor o passado (recente) da jovem norte-americana… e algo mais.

É um daqueles one-man show (neste caso woman show) que nos deixa presos à tela de início ao fim. Intimista, cru, doloroso, verdadeiro. Reese entrega-se de corpo e alma a este projeto, confiando plenamente no trabalho de Jean-Marc que, por sua vez, confirma um dom especial para contar histórias verdadeiramente improváveis.

Há algo humano, transcendente, sublime neste Wild, Da sua simplicidade, dureza e ingenuidade nasce um filme diferente que dá (muito) que pensar e que nos faz viajar ao longo de uma trilha memorável… e para lá da mente fragilizada de uma mulher.
De alguma forma será um sucedâneo – bem mais viril e voraz – de Eat, Pray, Love mas, felizmente, sem o romantismo e o espiritualismo da Itália, da Índia e de Bali.

Nota final para a banda-sonora, com especial referência para a perspicaz utilização de um clássico dos anos 70, El Condor Pasa (If I Could) que reproduzimos abaixo. Uma colectânea de músicas que capta com requinte e precisão o espírito do filme, contribuindo decididamente para o nosso enamoramento por ele.

Esperamos, sinceramente, que chegue a estrear nas salas de cinema nacionais.
Os cinéfilos portugueses assim o merecem!

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