“Força Maior (Turist)” de Ruben Östlund
Indigitado sueco ao Oscar® de Melhor Filme Estrangeiro e nomeado ao Golden Globe® na mesma categoria, a obra de Ruben Östlund foi um dos filmes do ano no velho continente.
Introspectivo, íntimo, mordaz e desconcertante, o filme explora as relações familiares, amorosas e sociais de um casal (com dois filhos) durante uma semana de férias nos Alpes.
Fiel seguidor do tradicional cinema europeu, em que o sentimento e o conteúdo se sobrepõe sempre à ação e à forma, é com prazer e idêntico desconforto que vamos assistindo ao desembrulhar das várias facetas e consequências do casal sueco.
São vários e diversos os temas abordados, tendo por denominador comum a intrínseca natureza humana e acção/reação em situações extremas e/ou irrepetíveis.
Teste à personalidade de cada um de nós, acabamos a refletir sobre o nosso próprio comportamento em situações similares, mesmo cientes da impossibilidade de testar ou avaliar a nossa resposta quando o critério fundamental é, exatamente, a imprevisibilidade de cada uma das ocorrências. Confortavelmente sentada na cadeira do cinema (ou no sofá de casa) é “fácil” optar pela alternativa mais correta mas no calor do momento quantos reagiriam de igual forma?
Longe do trabalho (ou quase) e de todas as demais frustrações do dia-a-dia, Tomas (Johannes Kuhnke) e Ebba (Lisa Loven Kongsli) aproveitam uma semana de férias com os filhos em plenos Alpes franceses, onde o sky e o convívio familiar, na respetiva estância, está sempre presente.
Até que um episódio inesperado irá abalar o equilíbrio familiar e obrigar todos a questionar a sua função, presença e pertinência dentro do seio familiar.
Enigmático e imprevisível a evolução e o desenlace deste ensaio sobre o comportamento humano, resulta numa obra interessante e primorosa, essencialmente pela capacidade de nos obrigar a “calçar os sapatos” dos protagonistas e a refletir sobre idênticos comportamentos. Apanágio do cinema europeu, o ser é sempre mais relevante do que o estar, e os efeitos deste (tipo de) filme reflete-se bem para lá da sala de cinema.
A máxima que temos vindo a defender nos últimos anos continua a ganhar adeptos. Há cinema de qualidade um pouco por todo o mundo e mesmo que seja difícil “vender” esta ideia aos cinéfilos e espetadores portugueses é sempre bom perceber que ainda há distribuidores (como a Alambique) e exibidores (como a UCI) com coragem para apostar neste cinema, dito, alternativo.
Não deslumbra mas convence.
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