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“Homem Irracional (Irrational Man)” de Woody Allen


Depois de explorar o seu lado mais romântico durante meia dúzia de anos/filmes, Woody Allen volta ao humor negro, por ventura, o género que melhor domina, influencia e (o) seduz.

Depois de se estrear às ordens do realizador nova-iorquino em Magic in the Moonlight, Emma Stone repete a dose, desta vez tendo por parceiro de aventura, Joaquin Phoenix. Para além do parceiro, muda igualmente o registo. Nada de magia, nada de luar ou romantismo. Desta vez temos problemas sérios… e soluções imprevisíveis!

Como cenário, nem a Europa, nem a sua omnipresente Nova-Iorque. O estado de Rhode Island é o palco escolhido, pela sua pacatez, universidades e (segundo o próprio realizador) pela escassez de sol. Um cenário refinado, impessoal e, de certa forma, sombrio, como o próprio filme.

Abe Lucas (Phoenix) é um professor Universitário de Filosofia a atravessar um período menos bom da sua existência. Para além do bloqueio mental que não lhe permite avançar com o seu novo livro, também em assuntos mais íntimos as coisas não correm pelo melhor. Ao chegar a Newport, a sua áurea de sofredor e de mulherengo seduz, com especial incidência, a sua colega professora Rita Richards (Parker Posey) e uma das suas alunas, Jill Pollard (Stone). Contrariando os seus intentos iniciais, Abe acabará por se envolver, de uma forma ou de outra, com ambas mas será uma conversa de restaurante que irá marcar decididamente a sua existência.

Emma e Joaquin combinam muito bem. Ao contrário do que é norma em Hollywood, a diferença etária não é escondida – aliás, enfatizada – o que transmite uma maior veracidade ao seu relacionamento e ao desenvolvimento das personagens. Essa diferença, não só numérica mas, sobretudo, de vivência, é transposta para o campo filosófico e existencialista com resultados surpreendentes. É tão bom sermos “enganados” com tamanho charme.

A dada altura cheguei a considerar o enredo demasiado próximo do de The Rewrite mas rapidamente Woody dobra a esquina, acelera o passo e despista qualquer tipo de comparação. O ponto de partida até pode ser semelhante mas será apenas mera coincidência. O tom mais depressivo e introspetivo, tão particular da sua obra, acaba por revelar um enredo complexo mas ao mesmo tempo simplório.

Pode não ter o encanto ou magia de filmes anteriores mas oferece-nos um ensaio valiosíssimo sobre a natureza humana, os seus defeitos, as suas virtudes e, no fundo, a inexistência de qualquer diferença entre estes.

O lado mais cinzentão de Woody Allen veio ao de cima em grande estilo… e em boa hora.
Não fossem as gerações mais novas começarem a pensar que o homem só fazia comédias românticas!

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