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“Salve, César! (Hail, Caesar!)” de Joel e Ethan Coen


Não é fácil para os irmãos Coen acertarem numa comédia.

Fargo, No Country for Old MenTrue Grit renderam-lhe fama, prémios e uma áurea de cineastas de culto. Já Intolerable Cruelty, The Ladykillers, Burn After Reading ou A Serious Man foram (bem) menos consensuais.

A diferença? As primeiros são obras dramáticas, mais ou menos violentas, retratos do ser humano e dos seus mais peculiares… defeitos! As segundas, comédias de intenso humor negro (negríssimo em alguns casos), muitas vezes com laivos de parvoíce e inusitada ignorância. E não convencem.

Pelo meio ainda tivemos Inside Llewyn Davis. Mas relativamente a musicais com vive de road trip falamos noutra altura…

Voltemos, então, a Hail, César! e aos anos dourados de Hollywood. Década de 50. Altura em que os grandes estúdios controlavam a generalidade da produção cinematográfica, assim como a generalidade dos seus agentes, i.e. atores, realizadores, argumentistas e demais envolvidos.
Era, também, uma época de grandes produções. Filmes épicos, musicais fabulosos, dramas intensos, westerns, na sua larga maioria rodados em grandes armazéns industriais.

Nesses mega-conglomerados bebia-se, respirava-se e vivia-se cinema. Da estrela mais cintilante, ao mais incógnito dos figurantes, todos os detalhes eram escrutinados, acautelados e condicionados de forma a garantir o sucesso das produções e o retorno do investimento.

Até aqui, nada a apontar ao filme de Joel e Ethan Coen. A sua homenagem a Hollywood, ao cinema dos grandes estúdios e a aqueles que na sombra garantiam que a “máquina” funcionava sem (grandes) percalços e sincera, faustosa e certeira. Dá vontade de invadir a tela e de participar, beber, respirar e viver a era dourada do cinema.

O problema começa quando os irmãos tentam introduzir algum humor (necessariamente) negro na equação. Algumas tiradas funcionam com apurado cinismo e inteligência mas muitas deixam bastante a desejar. E toda a cena do rapto – curiosamente o coração do filme – é totalmente dispensável.

Eddie Mannix (Josh Brolin) – figura verídica que faz parte da História do cinema mas que é aqui retratada de forma livre e espontânea – tem por função acompanhar todos os detalhes de todas as produções em rodagem. De entre as suas funções primordiais, consta tomar conta das mais vibrantes estrelas da época, com especial atenção para aquelas com um faro apurado para se meterem em confusões. Amantes, álcool, orientação sexual, tráfico de influências, amuos, gravidezes indesejadas ou solitárias, manias, egos e maluqueiras eram alguns dos contratempos de um “dia normal” por aquela altura em Hollywood… ou seja, nada mudou!
No epicentro destas 24h insanas, encontramos Baird Whitlock (George Clooney), estrela maior do estúdio, prestes a concluir a mais aguardada e dispendiosa produção do ano, que é inexplicavelmente raptado em plena luz do dia. Aos poucos vamos desvendando essa imensa conspiração em torno do rapto e todas as peças vão-se, lentamente, encaixando.

Não há como não o afirmar. As pequenas e singelas histórias secundárias e paralelas são incomparavelmente mais fascinantes e ricas do que o enredo central. Repletas de preciosidades e simplicidades, o retrato de uma era não assim tão diferente da nossa mas ao mesmo tempo totalmente antagónica resulta bem melhor do que Clooney e as suas divagações sociológicas.

Os bastidores de Hollywood continuam a ser um local mitológico mas naquela época tinham outro charme e encanto. Apreciei, genuinamente, a homenagem, a narrativa, a construção e, até, o voyeurismo. Foi pena tudo o resto.

Luzes. Câmara. Rapto. Ação!!
Sim, porque retirando o rapto e dando outro relevo à ação, teríamos, certamente, um filme bem mais agradável. Só não seria um filme do irmãos Coen.

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