“Agora ou Nunca (Ahora o Nunca)” de Maria Ripoll
Sim, meros sessenta e quatro… espetadores viram Ahora o Nunca no seu fim-de-semana de estreia em Portugal. 2 deles, fomos nós!
Uma lástima – e ao mesmo tempo decepcionante para quem gosta de bom cinema, independentemente da sua origem – mesmo para uma distribuidora de parcos recursos como a Cinemundo.
O filme estreou, no nosso país, em apenas UMA sala e como se pode constatar não conseguiu cativar (minimamente) a atenção dos espetadores (e distribuidores e exibidores) nacionais… que continuam a preferir tudo e qualquer coisa com um sotaque anglo-saxónico.
Ahora o Nunca está longe de ser um filme soberbo. Ainda assim justifica plenamente a ida ao cinema, confirmando que a comédia europeia está bem, recomenda-se e pode ser muito “prazeirosa”.
Temática simples, recorrente até – veja-se por exemplo as similaridades com Eyjafjallajökull – mas que faz das suas fraquezas, forças, e garante a sua quota parte de risadas, sorrisos e bom entretenimento.
Dani Rovira que surgiu de rompante na cena cinematográfica espanhola em 2014 graças a Ocho apellidos vascos é o cabeça de cartaz. A sua parceira (no filme e na vida real), Clara Lago marca igualmente presença nesta nova comédia espanhola mas, desta vez, num papel secundário, já que é Maria Valverde quem faz de cara metade do jovem Andaluz.
A premissa do mais simples que pode haver. Álex (Rovira) e Eva (Valverde) conheceram-se durante o Verão num curso em Inglaterra. Personalidades quase antagónicas, ele totalmente quadrado, calculista e metódico, ela bem mais aventureira e imprevisível, os dois jovens acabarão por se apaixonar e marcar casamento, precisamente na pequena cidade inglesa onde se conheceram.
Mas quando nas vésperas do casamento Álex e a sua família são impedidos de viajar para Londres devido a uma greve dos controladores aéreos espanhóis TUDO (o mais) pode acontecer. Lei de Murphy.
De percalço em percalço, vamos-nos divertindo com os infortúnios de Álex mas, também, de Eva. Quase a roçar o masoquismo – mas no bom sentido, ok! – o encadeamento de azares tem tanto de bem humorado como de verosímil, e aí reside a grande mais-valia da comédia europeia (face à norte-americana).
Sem maluqueiras nem idiotices (ou quase, pelo menos), o enredo evolui em bom ritmo e com assaz bom gosto. Pode até ter os seus momentos de previsibilidade e/ou desinteresse mas na sua larguíssima maioria só podemos elogiar mais um belo exemplo do cinema mais ligeiro que é feito aqui ao lado em Espanha.
E é uma pena que nós, portugueses e apreciadores de cinema, não o consigamos reconhecer em maior número e com maior assiduidade. Durante anos e anos, apenas Almodóvar (e pouco mais) conseguiu “atravessar a fronteira” e mesmo ele bem mais como reflexo do seu reconhecimento por Terras de Tio Sam do que, propriamente, por iniciativa da massa crítica nacional.
Acredito que a nossa atual propensão para o cinema mais adocicado ajude a apreciar com menor dureza o que o género tem para oferecer mas que isso não retire qualquer prestígio ao filme de Maria Ripoll.
Que venham mais, com maior projeção e mais depressa, sobretudo Tudo indica que Ocho apellidos catalanes, por exemplo, irá estrear no Outono no nosso país. É sempre bom que tal aconteça mesmo que com UM ANO de atraso face à sua estreia em Espanha.
Haja coragem… porque bom humor não falta por terras espanholas!
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