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“Sete Minutos Depois da Meia-Noite (A Monster Calls)” de Juan Antonio Bayona


Desenganem-se, desde já, aqueles que julgam tratar-se de um filme de fantasia, nem tão pouco infantil.
A Monster Calls está longe de ser uma obra recomendável para crianças, especialmente sem o adequado acompanhamento. Nada de gráfico ou desviante, simplesmente a mensagem é MUITO pesada.

Mas deve ser bem real porque não me lembro de alguma vez ter saído de uma sala de cinema com tanto peso na alma…

Apesar do sucesso à escala mundial alcançado por Lo Imposible, o catalão Juan Antonio Bayona ganhou a atenção do mundo cinematográfico com El Orfanato, uma drama com contornos de fantástico (e de terror). É exatamente disso que se trata, igualmente, este A Monster Calls. Mas quando dizemos drama, é mesmo daquele doloroso e irremediável.

Conor O’Malley (Lewis MacDougall) vive com a sua mãe. Apesar da sua tenra idade, o jovenzinho já teve de superar bastante. A separação dos pais, a morte do avô, a difícil relação com a avó (Sigourney Weaver) e, agora, a doença da mãe (Felicity Jones).
Sem (mais) ninguém a quem recorrer, o miúdo encontrará num “monstro” em forma de árvore, um ombro amigo e um confidente que o ajudará a encontrar a luz ao fundo do túnel… mas não sem antes o “obrigar” a uma extraordinária viagem introspetiva.

Sinceramente não sabia o que esperar antes de entrar na sala. Por algum motivo, não era certamente o que encontrei. Alegoria dos nossos tempos, A Monster Calls leva-nos numa viagem imprevisível e fortemente metafórica em que a distância entre a realidade e a fantasia se vai esbatendo até ao ponto de se confundirem.

Para lá da forma, responsabilidade de J.A. Bayona, o filme marca pelo argumento de Patrick Ness. Baseado na sua obra homónima, o autor norte-americano adapta para a 7ª arte de forma concisa e brutal uma história realmente contundente.
Pleno destaque para o jovem MacDougall que apesar da inevitável inexperiência não demonstra sinais de fraqueza, antes pelo contrário! Não conseguimos deixar de sentir a sua raiva, as suas dúvidas e a sua dor.
Quanta a Felicity, a jovem atriz inglesa parece estar em todo o lado. Depois de em 2014 ter despontado para a fama com o seu desempenho em The Theory of Everything, 2016 ficará para sempre marcado na sua carreira (Inferno, Rogue One, A Monster Calls). Neste caso, acaba por assumir um papel mais secundário do que seria a partida expectável mas igualmente qualitativo.

Sem querer adiantar muito do enredo do filme – no fundo foi aquilo que nos prendeu à cadeira – A Monster Calls pode parecer uma história para crianças mas está muito de o ser. É uma história sobre crianças mas que segue um rumo inesperado e profundamente doloroso. Não fazia ideia que (ainda) se faziam filmes assim.

Os sentimentos, as emoções e as inevitabilidades da vida, quando sabiamente retratadas, podem resultar em filmes poderosos e desconcertantes. O surplus, neste caso, é a aparente delicadeza com que o tema é tratado a nível infanto-juvenil. Pode parecer ternurento e até mágico mas rapidamente percebemos que a situação é realmente séria e angustiante.

Objetivamente, o filme é deveras interessante e qualitativo. Já do ponto de vista pessoal, é demasiado doloroso para o meu atual estado de espírito. Quando temos os nossos próprios filhos, tudo começa a ser encarado de outra forma…

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