“Animais Noturnos (Nocturnal Animals)” de Tom Ford
Independentemente de funcionarem bem ou mal no seu conjunto, há três verdades que parecem inquestionáveis depois de ver Nocturnal Animals.
Por muito estranho que posso parecer (e a nós parece-nos) o estilista e criador Tom Ford, tem um talento nato para o cinema. A sua obra de estreia, A Single Man, era já um filme bem acima da média, com um sensibilidade e acutilância impressionantes e um cuidado visual impecável. Nocturnal Animals pode estar longe de ser uma obra tão consistente mas, do ponto de vista visual, estamos perante um dos mais virtuosos filmes do ano.
Amy Adams é um atriz extraordinária. O seu rol de desempenhos e nomeações começa a atingir níveis apenas ao alcance dos predestinados e mesmo nunca tendo ganho um Oscar®, a jovem actriz norte-americana, começa a ter uma carreira digna de uma Streep ou de uma Hepburn. Num ano em que impressiona pelo seu desempenho em Arrival, a sua presença neste Nocturnal Animals é realmente electrizante.
Jake Gyllenhaal faz o “trabalho sujo” do filme. Dá o corpo ao manifesto e mesmo não tendo direito ao olhar mais refinado de Tom Ford, não é por isso que deixa de se destacar. Dois anos depois de Nightcrawler, Jake volta a arrancar (a ferros) um desempenho poderoso e visceral.
O senão é que o conteúdo está longe de acompanhar a forma.
A história dentro da história é sempre algo perigoso. O equilíbrio nunca é fácil de alcançar, especialmente em termos narrativos. E quando uma delas perde fulgor acaba, por norma, por arrastar o conjunto. É o que acaba por acontecer, com muito pena nossa.
Susan Morrow (Adams) arrasta consigo um passado sombrio que não lhe deixa desfrutar em pleno da sua luxuosa (ainda que fútil) vida. O seu casamento já teve melhores dias, e as noites parecem intermináveis. Até que um dia lhe chega por correio uma cópia do romance escrito pelo seu marido (Gyllenhall). Essa história de violência e vingança transporta uma mensagem subtil que se interligará com o passado de ambos.
Há medida que nos vamos perdendo por entre os contornos dolorosos do romance, a “vida real” parece cada vez mais distante e desinteressante. A expetativa de que algo simbiótico aconteça é a nossa única réstia de esperança mas…
O trabalho de Ford tem recebido os melhores elogios. Ainda que fruto de um brilhante trabalho em termos visuais, estes acabam por negligenciar as evidentes lacunas em termos narrativos que conduzem o filme para um desenlace algo preguiçoso e, sobretudo, pouco ambicioso.
Dito isto, o principal beneficiário com o reconhecimento que o filme tem alcançado, poderá ser mesmo o Diretor de Fotografia, Seamus McGarvey. Ele que já conta no currículo com 2 nomeações aos Oscar® (Anna Karenina e Atonement)… e que tem aqui uma fantástica oportunidade para alcançar a estatueta!
Um filme interessante mas que não chega a ser memorável.
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